Muitas filosofias espirituais concordam que a experiência é de muita importância. Poderíamos até dizer que o verdadeiro significado da vida é experienciá-la, em todas as suas diversas facetas—respirar toda a sua profundidade e grandiosidade. Quando um ser espiritual é chamado para esta esfera dualista—para este plano material—somos atraídos para cá conforme onde estamos em nosso desenvolvimento. Nossa consciência é limitada e por isso grande parte da verdadeira realidade não é visível.

A única maneira de experienciar mais a vida é nos expandindo. Para fazer isso é necessário virmos aqui muitas vezes até que todos os nossos bloqueios contra a vida tenham sido eliminados e que tenhamos provado, saboreado e assimilado tudo sobre a vida. Assim, podemos experienciar a totalidade da vida, em todo o seu esplendor.

Podemos viajar para todos os lugares. Mas, se nossa experiência interior estiver morta, todas essas experiências pouco ou nada acrescentarão à nossa vida.
Podemos viajar para todos os lugares. Mas, se nossa experiência interior estiver morta, todas essas experiências pouco ou nada acrescentarão à nossa vida.

Geralmente, quando ouvimos a palavra “experiência”, pensamos em uma experiência exterior. Entretanto, este não é o verdadeiro significado da palavra. O significado real é experiência interior. Ou seja, podemos ter experiências exteriores de todas as formas, mas se a nossa experiência interior for impedida, a experiência exterior não terá muito significado.

Podemos viajar para longe e para muitos lugares. Podemos experienciar muitos tipos de situações, experimentando todas as “experiências” que pudermos. Podemos olhar a vida de todos os ângulos, experienciando a arte, a ciência e a natureza. Podemos fazer todas essas coisas, aprendendo tudo que nosso cérebro é capaz de dominar. Porém, se a nossa experiência interior estiver morta, todas essas experiências acrescentarão pouco, se acrescentar algo, à nossa vida.

Na realidade, é até possível que as experiências exteriores aumentem nosso desespero. Pois é muito inquietante não compreender a causa do que está acontecendo. Uma pessoa pode ter tudo o que sempre quis e, ainda assim, permanece uma insatisfação incômoda. Elas podem tentar conseguir mais coisas ou correr atrás de mais realizações, mas viver uma vida frutífera se torna cada vez mais difícil. Pois a capacidade interior de vivenciar a vida plenamente não foi cultivada. O solo interior não foi preparado. Pior ainda, foi praticamente destruído.

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A importância dos sentimentos

Para que a experiência interior seja possível, precisamos ser capazes de sentir. Se todos os nossos sentimentos estiverem bloqueados, nenhuma experiência interior pode acontecer. Quando amortecemos os nossos sentimentos, amortecemos toda a vida. Como resultado, não podemos sentir nossas vidas. E por isso é que precisamos retornar à existência material diversas vezes até aprendermos a saborear a experiência, da melhor maneira possível, considerando onde estamos em nossa jornada espiritual.

Para saborear a vida completamente, precisaremos eliminar as defesas que construímos para não sentir nossos sentimentos. Isso significa que precisaremos superar nosso medo dos sentimentos dolorosos. Precisaremos aceitar o que tememos, vivenciando aquele sentimento como ele se apresenta neste momento. Há uma grande chance de como nos sentimos agora ser o resultado de sentimentos de muito tempo atrás, que nunca experimentamos plenamente. Eles estiveram estagnados por todo esse tempo e, criando um bloqueio em nosso sistema.

Sempre que tememos um sentimento, bloqueamos a experiência. Ficamos dormentes. A negação e esse tipo de anestesia emocional muitas vezes parecem ser as únicas proteções que temos contra sentir dor e sofrimento. E ainda, enquanto fazemos nosso trabalho de cura pessoal, o que descobrimos é o seguinte: o que realmente está causando nosso sofrimento é nossa luta contra o que tememos.

Independentemente do que nos atingia de fora quando estávamos desamparados e indefesos, não nos afetará se aprendermos a recebê-lo da maneira correta—de maneira saudável. Essa, meus amigos, é a única maneira de nos livrarmos do que é indesejável. Quando ousamos experienciar—dentro de nós—o que quer que venha até nós, não será mais uma ameaça.

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De todas as nossas emoções, qual é a mais destrutiva? Isso seria medo. Quando não encontramos e não transcendemos nosso medo, ele se torna tóxico.
De todas as nossas emoções, qual é a mais destrutiva? Isso seria medo. Quando não encontramos e não transcendemos nosso medo, ele se torna tóxico.

Enfrentando nosso pior sentimento

Agora olharemos mais profundamente o significado da nossa experiência emocional interior. Em particular, exploraremos o que acontece quando bloqueamos nossos sentimentos e, portanto, impossibilitamos nossa experiência interior.

De todas as nossas emoções, qual é a mais destrutiva? É o medo. Quando não reconhecemos e transcendemos nosso medo, ele se torna tóxico. O medo é uma energia venenosa que, quando inconsciente, manifestar-se-á indiretamente, tornando-se ainda mais debilitante. E o medo mais traiçoeiro é o medo dos sentimentos. É mais destrutivo do que o medo de algo que está fora nós. Pois, se tememos um perigo real, podemos superá-lo. Em alguns casos, vamos exagerar o medo que temos de alguma situação exterior, o que não seria tão prejudicial, exceto que essa fobia é a expressão de um sentimento que ainda não reconhecemos ou sentimos.

Podemos lidar com qualquer coisa que está fora de nós através de ações exteriores. Com os sentimentos, entretanto, apenas podemos lidar com eles se os vivenciarmos. E eles não podem ser vivenciados quando são negados. Quando temos medo de ser rejeitados, de não conseguir o que queremos, de ter nosso orgulho ferido, ou quando temos medo da dor ou da solidão, em todos esses casos, nosso sentimento primário é o medo.

Somente experienciando o que tememos—por exemplo, a rejeição—sentiremos a dor que ela causa. Desse modo, estamos basicamente lidando com o medo da dor. Quando nos permitimos entrar no medo, podemos sentir a dor. E assim a dor vai ser liberada e desaparecerá, e teremos dominado uma parte da vida que não precisaremos evitar nunca mais.

O que geralmente fazemos é evitar cegamente nosso medo da dor até perdermos a noção de que tememos uma dor específica. Não sabemos mais por que nos sentimos anestesiados e mortos por dentro. Quando fazemos isso, criamos um bloqueio magnético de energia em nossa psique, o qual é uma força poderosa. E esse bloqueio magnético irá atrair para nós exatamente a experiência que queríamos evitar.

Agora, a dor que estávamos evitando chega para nós pelo exterior. Isso acontecerá muitas vezes, até que não possamos mais fugir dela. Essa é uma lei espiritual da vida.

Se chegarmos ao mundo com um medo desses, as circunstâncias da nossa vida irão trazer à tona as mesmas condições das quais fugimos em uma vida anterior. Em outras palavras, se as circunstâncias do início da nossa vida foram difíceis—repleta de dor e privação—e novamente nos protegermos negando a dor, em vez de experienciá-la completamente, mais tarde na vida as mesmas circunstâncias se apresentarão de um modo que replica aquelas condições anteriores.

Isso continuará acontecendo até nos abrirmos para o que tememos e permitirmos que a experiência aconteça em nós. Essa é a única maneira de dissolver a dor associada. Ao vivenciar completamente a experiência dolorosa, nós realmente a superamos. Isso dissolve a energia do bloqueio magnético e ela retorna para o fluxo geral de vida dentro de nós. Depois disso, a experiência que temíamos não irá mais acontecer conosco.

É possível que tenhamos evitado temporariamente a experiência que tememos, utilizando com sucesso nossas defesas interiores para desligar a vida de forma tão completa que nada pode nos atingir. E utilizando nossa força de vontade, podemos ter construído uma vida externa bastante agitada que consegue preencher nosso vazio interior, pelo menos até certo ponto. Isso funciona, contanto que não paremos. E, no entanto, isso nada mais é do que uma paz temporária antes de uma tempestade acontecer.

Eventualmente, a crise chegará, dando-nos uma outra chance de superar nosso medo. Pois quanto mais fugimos, quanto mais energia investimos para bloquear o sentimento que tememos, mais potente se torna o bloqueio magnético de energia e mais certamente atrairemos uma crise que pode ser exatamente o que precisamos curar—se escolhermos mudar nosso foco e prestar atenção à nossa vida interior.

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O valor de ser vulnerável

Se quisermos vivenciar prazer, alegria e paz, precisamos não ter medo e estar relaxados. Esta é a única maneira de alcançar nosso potencial e expandir nosso Eu Real. Se nenhuma parte do nosso eu interior tivesse algo a esconder—se não tivéssemos nenhum território interior que achássemos que precisávamos defender e proteger—iriamos desfrutar de todo o nosso potencial para a criatividade e o prazer. Porém se nos protegermos contra qualquer partícula de imperfeição—contra qualquer tipo de experiência interior—então todos os tipos de experiências serão igualmente suprimidos. Não é difícil de enxergar isso.

Se passarmos a vida nos defendendo e nos protegendo contra nosso medo da dor—ou realmente contra qualquer experiência indesejável—tornaremo-nos tensos. Pois se escudar é o mesmo que estar tenso. Mas o prazer e a criatividade requerem um estado de relaxamento. Quando resistimos ao movimento em nossa vida interior, não podemos nos expressar. Nós nos separamos de uma parte vital de nós. Não é surpresa, então, que perdemos contato com nós mesmos e não sabemos mais quem somos e o que estamos fazendo!

Vivemos em um estado de vigia perpétuo, embora não pensemos conscientemente dessa maneira. Assim sendo, o primeiro passo em nosso caminho espiritual será dar uma boa olhada em nossas defesas. Depois de fazer isso, podemos prosseguir para a próxima pergunta: do que exatamente estou me protegendo? O que sempre descobriremos é que estamos nos defendendo de sentir uma dor que já sofremos.

Não somos capazes de ver, obviamente, o que aconteceu antes desta vida atual. Mas tudo bem. Essa vida é tudo o que precisamos ver. Seja quais foram as dores que vivenciamos no início dessa vida, elas são essencialmente as mesmas que sofremos na vida anterior. Os bloqueios de energia acumulados ainda residem em nosso sistema, atraindo os mesmos eventos continuamente. Com os bloqueios presentes também é impossível conhecer novas experiências de forma limpa, como se fôssemos uma nova lousa. Esses novos sentimentos difíceis são simplesmente adicionados a um reservatório em nosso ser. Mas, quando esvaziamos esse reservatório de resíduos, tendo vivenciado tudo o que acumulamos no passado, iremos lidar com as dores novas de uma maneira muito diferente.

Primeiramente, permaneceremos receptivos e vulneráveis durante a experiência, permitindo que a dor passe por nós de modo suave e gentil. Não lutaremos contra a dor e saberemos perfeitamente por que estamos sofrendo. Ao integrar uma experiência dolorosa desse modo, a onda de dor passará de acordo com sua própria natureza—às vezes passará rapidamente e outras vezes será mais lenta—a caminho de se dissolver em nosso fluxo interior de vida.

Como estaremos em um estado receptivo e relaxado, seremos capazes de acessar a inspiração e os recursos que, de outra forma, estariam bloqueados. A orientação virá de dentro, ajudando-nos a encontrar novas ações que farão diferença em nossas vidas e na vida daqueles ao nosso redor. Seremos preenchidos com uma vibração nova e continuamente crescente quando vivermos assim. Que alegria será saber que está tudo bem, em toda parte.

Mas quando evitamos os sentimentos dolorosos que tememos e, em vez disso, tentamos produzir alegria por meio do uso forçado da nossa vontade própria—alegria, entretanto, não podemos ter ao menos que vivamos sem nos proteger dos nossos medos—sendo assim, nossa vontade precisa ser destruída pela vida muitas e muitas vezes. Pois a vida—a força vital emanada do nosso núcleo central—não pode ser manipulada pela nossa mente pequena, repleta de medo e controladora.

Sempre que tentamos utilizar uma corrente forçadamente—“Eu me recuso a vivenciar isso e exijo vivenciar aquilo”—ao invés do fluxo relaxado de consciência, o qual é substância da alma que flui como água, nós inevitavelmente trazemos uma crise para nós, criando mais dor.

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É aqui que estamos hoje, em nosso estágio atual de evolução. Muitas vezes temos uma mente altamente desenvolvida, mas não somos capazes de viver plenamente
É aqui que estamos hoje, em nosso estágio atual de evolução. Muitas vezes temos uma mente altamente desenvolvida, mas não somos capazes de viver plenamente

A causa de uma crise de identidade

A dualidade com a qual estamos familiarizados como humanos vem principalmente do medo que não vivemos e, portanto, não foi dissolvido. Na realidade, estamos dizendo: “Eu não devo vivenciar isso.” E é isso que cria dualidade. Nosso medo gera uma corrente positiva e uma corrente negativa e é essa corrente dividida a base onde se localiza o estado doloroso de dualidade. Tal dualidade se desenvolve mais quando evitamos os sentimentos. Pois ao evitar, nos fechamos para algo, e isso cria um movimento tenso de se agarrar urgentemente na direção oposta que interrompe fluxo da vida.

O ódio e a violência são causados por nossa forte negação interior. Nosso ódio se dissolverá quando desistirmos do nosso medo da dor, vivenciando completamente a nossa dor antiga. A dor em si se dissolverá retornando para seu estado natural de origem, o qual é um rio de vida tranquilo e vibrante que flui através das nossas veias. Cada um de nós é uma parte vital desse fluxo.

Portanto, nosso medo dos sentimentos não apenas bloqueia o que deseja fluir através de nós, mas também nos divide em um estado fragmentado. A única maneira de alcançar um estado de consciência superior e mais unificado é passando pelo que tememos. A unidade nunca pode acontecer se o medo for evitado.

Se o medo dos nossos sentimentos nos fizer bloquear nossa capacidade de sentir, ficaremos empobrecidos—pobres em espírito—e isso cria a necessidade de achar uma substituição. E que melhor substituição existe do que a mente limitada do ego. Em um esforço para não sentir o quão mortos e espiritualmente pobres nos tornamos e, para sentir que existimos, utilizamos nossa mente exterior muito mais do que é natural.

Em outras palavras, se não formos capazes de existir através do nosso eu livre e sensível, nossa vontade e nosso intelecto assumirão o controle, colocando-se exclusivamente no comando da parte de nós com sentimentos amortecidos. Isso nos dará a ilusão temporária de que estamos vivos. Mas essa vitalidade é precária e, a longo prazo, não é tão convincente. Pois a consciência que carece de sentimento, não tem brilho. Em resumo, nossa vida não terá brilho.

Uma vida incompleta como essa parecerá estéril e seca. E mesmo que cheguemos às formulações mais brilhantes com a nossa mente—uma mente que não está unificada com a nossa experiência interna dos sentimentos—teremos momentos secretos em que duvidaremos de que somos reais. Duvidaremos da nossa própria vitalidade.

É aqui que estamos hoje, em nosso estágio atual de evolução. Freqüentemente, temos uma mente altamente desenvolvida, mas não somos capazes de viver plenamente. Às vezes, chamamos essa condição - separação de nossos eus sentimentais - de crise de identidade, que é o que acontece quando evitamos e reprimimos nossos sentimentos. Jamais saberemos quem realmente somos quando nossa mente substitui a coisa real pela chamada “vida”, que é o eu interior maior que pode sentir.

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Armadilhas mentais levam ao deslocamento

O que acontece com nossos sentimentos quando os negamos? Por exemplo, a tristeza. Para onde ela vai? Quando dizemos a nós mesmos: “Eu não preciso ficar triste. Eu não devo ficar triste,” estamos essencialmente nos rebelando contra o sentimento de tristeza. A partir disso, desenvolvemos uma ideia errada de que estar triste é uma catástrofe. Se estivermos tristes, morreremos. Nunca expressamos isso completamente—para nós mesmos ou para outras pessoas—mas, mesmo assim, isso desencadeia o medo.

Nós exageramos o que consideramos ser verdade, transformando o medo em pavor. Agora temos o pavor de ficar tristes, e isso cria uma necessidade compulsiva de evitar ficar triste. Se as circunstâncias da nossa vida nos forçar a se sentir tristes—e isso acontecerá, já que inevitavelmente atraímos o que tememos—esse pavor pode produzir tanta perturbação interna que iremos, de fato, desmoronar.

É muito possível que não tenhamos consciência de quanta raiva rebelde em nós está alimentando nosso pavor, ou da ideia errada que agora temos sobre a tristeza, que nos faz lutar tanto contra ela. E agora, quando sentimos tristeza, em nosso atual estado emocional de desligamento, não parece tão ruim. Agora achamos que podemos suportar. No entanto, o problema não era que a tristeza em si não pudesse se expressar.

A verdade da situação é esta: nós podemos facilmente suportar qualquer sentimento puro e direto, não importa qual for ou por que o tenhamos. O que é insuportável—doloroso, desesperador e aterrorizador—é a luta interior criada por nossas ideias equivocadas. Quando é dito na Bíblia: “Conforme o que você acreditar, acontecerá com você,” é exatamente sobre isso que estamos tratando. E isso não significa que uma mágica virá dos céus com recompensa para os que creem e punição para aqueles que duvidam. É apenas a descrição das dinâmicas que estamos abordando aqui.

A mente hiperativa cria esta imagem: “Eu vou perecer se tiver que ficar triste,” mesmo que não estejamos conscientes de que estamos pensando assim. Com os conceitos mentais que criamos e que sustentam a crença de que não suportamos ficar triste—e que é perigoso—justificamos nossa recusa em nos sentirmos tristes. Uma maneira de fazer isso é criar caso contra as pessoas que nos entristece.

Nossa mente se esforça para justificar por que não deveríamos ter esse sentimento terrível. Assim, contruímos ilusões. E sempre parece ser muito difícil abandonar nossas queridas ilusões.

Sempre que negamos uma experiência original—como sentir a dor da tristeza—esse sentimento é transferido. Então, vivenciaremos esse sentimento em outro lugar, em outras situações, onde se transformará em autopiedade, depressão ou desespero. Esses sentimentos realmente são destrutivos e podem, de fato, nos derrubar. Se fosse ao contrário, o sentimento original de tristeza—se o tivéssemos vivenciado completamente e o conectado com o que nos deixou tristes—teria ido embora. Teria seguido seu transcurso natural se não o tivéssemos manipul, negando ou exagerando aquele sentimento.

Como se pode imaginar, é extremamente importante lembrarmos disso e colocá-lo em prática. Caso contrário, nossa distorção de um sentimento fará parte de um círculo vicioso, e é muito difícil sair dele. Outro aspecto de um círculo vicioso causado pela negação da tristeza é a negação da raiva e do ódio pela vida por ela nos deixar tristes.

Raiva

Vamos conversar sobre a raiva. Se experienciarmos nitidamente a raiva quando alguém nos machuca ou nos fere, ela se resolverá sozinha. Quando as outras pessoas negam sua verdade interior—seus sentimentos verdadeiros interiores—elas causam dor em nós, do mesmo modo que nós causamos dor nas outras pessoas quando não nos permitimos vivenciar os nossos sentimentos. Não importa se essa foi a intenção ou não. E podemos causar dor aos outros tanto pelo que fazemos pelo que não fazemos.

O clima de omissão—de não receber o que precisamos—na vida de uma criança é, na realidade, mais difícil de lidar porque nada realmente ocorreu. Não há nada em que possamos conectar nossa dor, tornando-a mais difícil de reconhecer e sentir, o que a eliminaria da nossa psique. É totalmente normal e saudável reagirmos inicialmente com raiva. Mas precisamos entender que é possível ter uma reação dessas e não agir de modo destrutivo em relação a outras pessoas. Assim, podemos aceitar nossa raiva sem nos julgar ou nos justificar para ninguém.

Podemos dissolver este sentimento se nos permitirmos sentir e seguí-lo até a dor que o causou. Então, tornamo-nos livres. Se, em vez disso, o negarmos, ele se transformará em hostilidade e crueldade. E isso, com certeza, precisaremos encobrir se quisermos nos ajustarmos aos os padrões da nossa sociedade. É assim que nos tornamos cada vez mais alienados do que realmente sentimos, enquanto distorcemos o sentimento original em algo mais difícil de controlar.

Solidão e Desespero

Vejamos o que acontece quando negamos os sentimentos originais de solidão e desespero, quando dizemos dentro de nós mesmos: “Eu nunca deveria ter que sentir isso. Eu deveria ser poupado dessa experiência de sentir desespero.” Nesse caso, nossa negação faz com que nosso sentimento de desespero se transforme em amargura, falta de fé e isolamento, com uma angústia por não haver como sairmos dessa situação.

Se vivenciássemos o desespero original como ele é, sem adicionar camadas de conceitos ou conclusões mentais, ele iria desaparecer rapidamente. Ao senti-lo, sem criar nada além do que existe, estamos nos conectando com o que está realmente acontecendo em nós. Isso nos levará através do túnel da escuridão e novamente à luz da vida.

Experienciar o desespero momentâneo de forma pura e nítida não é o mesmo que forçar sutilmente um sentimento de desespero, que é resultante de uma corrente que foi forçada. Uma corrente forçada é o que usamos para manipular a vida e as pessoas que encontramos para substituir aquelas que nos causaram a dor original quando éramos crianças. Essa corrente forçada declara: “Eu exijo que você me dê tudo que estou pedindo. Você tem que me proteger de todos os sentimentos desagradáveis. Eu vou me sentir desesperada como forma de convencê-lo a fazer isso por mim.”

Se formos capazes de decifrar e admitir uma mensagem tão irracional vinda do nosso interior oculto, o desespero artificial—que é sempre insuportável—que usamos para manipular os outros dará lugar a um novo insight. E isso nos levará de volta ao sentimento original que temos evitado.

Se conseguirmos compreender as nossas mensages ocultas dessa maneira, daremos um pulo gigante rumo à autoconsciência. Iremos atravessar o túnel dos sentimentos originais e, do outro lado, encontraremos a verdade e as boas-novas da realidade espiritual: finalmente, a vida é segura.

A palavra “finalmente” não se refere a um momento muito distante daqui. Refere-se ao momento final em que temos fé e coragem para realmente explorar o que está dentro de nós e sentir o que está lá para sentir. Chegamos aqui sempre que permitimos acontecer o que está dentro de nós.

Chegamos ao objetivo final quando afrouxamos a armadura que criamos a fim de nos defendermos contra sentimentos desconfortáveis. Quando abandonarmos nossas defesas, vamos sentir e vamos chorar. Vamos tremer e nos contorcer. É assim que sentimos de forma direta e pura o sentimento original. Então, todos os resíduos de sentimentos se esvairão.

Teremos, então, uma experiência nova a cada dia, enquanto a onda da vida fluir por nós. Não viveremos mais atrás de uma parede impenetrável—uma parede pela qual nada pode atravessar, nem para entrar e nem para sair. Esse estado é o verdadeiro isolamento de um ser amedrontado e que não está mais em unidade. Uma pessoas dessas envia uma corrente forçada para o mundo dizendo: “Não, eu não vou sentir isso!” em uma posição de defesa sustentada por uma forte negação.

Medo

Agora vamos nos voltar para o medo. Quando negamos o medo, ele se transforma em uma ansiedade vaga que é muito mais perturbadora, pois agora não temos mais nada em que nos concentrarmos e, portanto, nenhuma maneira de lidar com ele. Mas se enfrentarmos nosso medo diretamente, nós também lidaremos com outros sentimentos, incluindo a dor, a raiva, o desespero e outros sentimentos semelhantes. Dessa forma, há uma saída. Mas, se a ansiedade substituir o medo, ela não oferece nenhuma saída.

Se estivermos perturbados ou vagamente irritados e não conseguirmos identificar exatamente o que aconteceu conosco, não devemos simplesmente ignorar isso, pois apenas criará mais camadas de separação e desorientação. Então, nosso trabalho é focar nas sensações que sentimos, confiando no fato de que existe algo tangível para encontrarmos e lidarmos com ele. Nós apenas precisamos tirá-lo de onde se enconde. Esse é o caminho que leva a uma experiência mais completa dos sentimentos presentes e passados.

Quando esvaziarmos o poço de sentimentos velhos, viveremos verdadeiramente na realidade presente e iremos parar de viver na ilusão de que estamos reagimos ao presente, quando na realidade estamos reagindo a um passado que continuamos a evitar.

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Transformando a dor em prazer

Qualquer pessoa que decida realmente acessar o núcleo central do seu ser pode fazê-lo a qualquer momento. Precisamos apenas tomar a decisão de olhar, sentir, vivenciar e parar de projetar para o mundo exterior o que está dentro de nós. Podemos permitir que os sentimentos aconteçam em nós, até mesmo os sentimentos de decepção, medo e dor. Podemos permitir que eles cheguem à sua resolução, transformando-os de volta no fluxo original de vida. A boa notícia é que, quando nós fizermos isso, não teremos mais medo dos nossos sentimentos e, assim, esses sentimentos difíceis gradualmente deixarão de vir até nós.

Precisamos entender que qualquer coisa indesejável que acontece conosco só ocorre por que dizemos Não a ela. “Não, eu não devo ter essa experiência. O que posso fazer para evitá-la?” Muitos de nós começamos a trilhar um caminho espiritual como este, precisamente porque estamos buscando a melhor maneira de evitar sentimentos indesejáveis. Quando finalmente percebemos que exatamente o oposto é verdadeiro—que devemos entrar de cabeça neles—nós fugimos. Não podemos, ou não queremos, aceitar a verdade de que evitar é fútil. Em vez disso, insistimos em nossa ilusão.

É de extrema importância, então, que nos perguntemos: “Quanto medo tenho deste sentimento em mim? Que sentimento é esse?” Na verdade, nada que acontece fora de nós pode ser tão aterrorizador. Estamos apenas com medo do que ele fará conosco—do que nos fará sentir. Mas, ao entrar no sentimento que queremos evitar, um milagre acontece: a aceitação da dor transforma a dor em prazer. Certamente, essa pode se tornar uma realidade para nós, não algum princípio sobre o qual ouvimos falar.

Quanto menos bloquearmos nosso sentimentos dolorosos, mais—e mais rapidamente—nossa dor se transformará em prazer. Desse modo, podemos testemunhar pessoalmente o processo de unificação de uma dualidade.

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A verdadeira natureza da vida não é escuridão, mas luz. A verdadeira natureza da vida não é destruição, mas construção.
A verdadeira natureza da vida não é escuridão, mas luz. A verdadeira natureza da vida não é destruição, mas construção.

Construção e desconstrução

A partir daqui, podemos avançar mais em nosso caminho de autotransformação ao alternarmos nossos sentimentos atuais com uma experiência direta e profunda dos sentimentos residuais. Podemos aprender a parar de lutar contra qualquer sentimento e, dessa forma, vamos—pela primeira vez—perder o medo. Podemos começar neste momento. Quais são os sentimentos que você teme? Enfrente-os verdadeiramente. Agora tente sentir este sentimento que você teme. Deixe acontecer o que você achou que não poderia suportar.

O que estamos tratando aqui não é uma filosofia fora do nosso alcance. Todos esses conceitos podem ser aplicados concretamente, imediatamente. Cada um de nós pode verificá-los por si mesmo, se realmente seguirmos em frente e não pararmos no meio. Todos que já o fizeram atestarão que o que parece, a princípio, um abismo escuro e aterrorizador é, na realidade, um túnel que quando atravessamos encontramos a luz. Todas as pessoas podem vivenciar isso. O abismo nunca pode ser sem fundo, pois a verdadeira natureza da vida não é a escuridão, mas a luz. A verdadeira natureza da vida não é destruição, mas construção.

As forças da vida que são más, destrutivas e demoníacas estão enraizadas em nosso medo de experienciar o que está em nós: nossos sentimentos. Com base nesse medo, construímos todas as nossas defesas destrutivas. Essa é a única razão pela qual existe destrutividade. Ela se instala por causa do nosso medo dos sentimentos—das experiências dolorosas. Isso nos torna isolados e arrogantes, gananciosos e cruéis, egoístas e negadores da vida.

Nossa negação faz com que sejamos falsos no nível mais vital do nosso ser: o nível interior. Porque se negarmos o que sentimos, não seremos verdadeiros com nós mesmos. E essa é a definição de mal, se estivermos dispostos a usar essa palavra. A destrutividade é o que está por trás das paredes interiores que todos nós construímos para não vivenciar a verdade do que está presente em nós.

Somos nós que convertemos energia construtiva em energia destrutiva. Estamos mentindo para nós mesmos quando negamos a experiência do que sentimos, falsificando nosso Eu Real. Tornamo-nos tão falsos que deixamos de saber quem realmente somos. Em nossa negação, criamos a falsa esperança de que podemos eliminar qualquer sentimento indesejável quando o evitamos. Nossa negação também é responsável pela criação de um falso desespero de que o túnel pelo qual precisamos passar é realmente um abismo sem fundo de terror e aniquilação. É assim que desperdiçamos a força vital disponível para nós, opondo-nos à verdade. É assim que criamos nossa própria dor desnecessária.

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As crianças podem chorar lágrimas amargas em um minuto e, no minuto seguinte, virar-se e rir com gosto, tudo porque permitem que a dor siga seu curso natural.
As crianças podem chorar lágrimas amargas em um minuto e, no minuto seguinte, virar-se e rir com gosto, tudo porque permitem que a dor siga seu curso natural.

O processo de limpeza

Nossa relutância em enfrentar nossa dor original leva à formação de exigências insaciáveis e gananciosas. Acreditamos que nos poupará de toda frustração e evitará que sejamos criticados. Exigimos ser sempre amados—e que amem nosso modo, o modo que queremos ser amados. Mas até que abandonemos essas exigências irracionais e passemos por nossa dor original, estaremos presos em uma gangorra de submissão e rebelião, o que é um círculo vicioso muito desagradável.

Iremos nos submetermos às exigências igualmente insaciáveis e irracionais dos outros e travaremos uma luta por poder contra eles. Nosso objetivo é fazer com que eles finalmente aceitem o nosso comando. Temos vergonha da nossa submissão—odiamo-nos por isso—e então nos rebelamos, acreditando que temos que provar nossa “independência”. Em ambos os casos, estamos violando os interesses do nosso Eu Real e não estamos conscientes do que está nos levando cegamente à submissão e à rebelião.

Para sermos realmente independentes, precisamos parar de fazer exigências. E isso só acontecerá quando estivermos dispostos a experienciar qualquer sentimento que chegue até nós, sabendo que somos nós que o produzimos e que o lugar onde realmente existe é dentro de nós.

Há quem afirme que as crianças não são capazes de reagir à dor de outra forma a não ser construindo defesas que as deixem anestesiadas. Isso só é verdade quando, em uma vida passada, a pessoa não vivenciou completamente a dor residual e, portanto, não conseguiu eliminá-la. Considerando quanto uma pessoa tenha feito isso—eliminado a dor residual—então, mesmo na infância, ela poderá vivenciar circunstâncias severas de uma maneira indefesa.

Essa criança suportará a dor e passará por ela até que ela cesse sozinha, e não deixará marca. Isso é o que pode acontecer quando a dor é sentida integralmente. Sentir dor diretamente também nos torna mais resistentes, dando-nos a capacidade de viver uma vida frutífera e produtiva. E, definitivamente, aumenta nossa capacidade de vivenciar sentimentos profundos de prazer.

Este é o princípio vivo por trás de “Não resista ao mal”. Teríamos que ser cegos para não ver que as crianças têm uma grande capacidade para isso. Elas podem chorar intensamente em um momento e logo após rir com gosto, tudo porque permitem que a dor siga seu curso natural. É somente quando não vivenciamos a dor que ficamos anestesiados. Tornamo-nos amortecidos e destrutivos e desenvolvemos inúmeras tendências neuróticas. Portanto, não, não podemos dizer que é verdade que as crianças não conseguem evitar de reagir como elas reagem—se autoanestesiando—a situações traumáticas.

A experiência completa dos sentimentos é a higienização da alma. Ela impede a estagnação do nosso eu espiritual, quando permitimos que o poder dentro de nós preencha todo o nosso organismo—nosso ser espiritual, mental, emocional e físico. Este é o metabolismo do nosso self total.

Do mesmo modo que o excremento físico que não é eliminado cria doenças no corpo, o resíduo de sentimento que não foi expelido faz com que nossa alma fique doente. O processo de cura que unificará todo o nosso ser envolve: comprometer-se a sentir tudo o que somos capazes de sentir; observar os sentimentos que tememos e os eventos que evocam esses sentimentos; estar disposto a pelo menos tentar enfrentar nossos medos e vivenciar nossos sentimentos.

Esse é o caminho para tornar nossa vida o mais plena possível, permeando-nos com a compreensão de que agora estamos vivendo nossa melhor vida e preenchendo-a com significados profundos.

“Muito amor está sendo derramado sobre todos vocês. Que vocês possam senti-lo!”

– Guia Pathwork

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