A vida é uma espécie de armadilha aonde estamos presos nessa luta para superar a dualidade entre a vida e a morte. A partir desse dilema fundamental derivam todos os nossos outros problemas, medos e tensões. Isso se manifesta no medo que temos da morte, assim como, no medo de envelhecer e no medo do desconhecido. Qual é a raiz comum de todos esses medos? A passagem do tempo.

Na tentativa de lidar com esses medos básicos, a humanidade desenvolveu várias filosofias e conceitos espirituais ou religiosos. Mas mesmo que estes conceitos sejam verdadeiros e a partir da iniciativa de alguém tentando transmitir uma experiência autêntica, eles não aliviarão nossa tensão. Verdade seja dita, a única maneira de superar nossos medos—para reconciliar a cisão dessa dualidade gigantesca—é mergulhar fundo no megadesconhecido que tanto tememos: nossa própria psique.

A única maneira de realmente superar nossos medos é mergulhar fundo no megainconhecido que todos tememos tanto: nossa própria psique.
A única maneira de realmente superar nossos medos é mergulhar fundo no megainconhecido que todos tememos tanto: nossa própria psique.

Bem, quão difícil isso poderia ser? Acontece que isso parece mais simples do que realmente é. Para explorar os cantos ocultos da nossa própria mente, teremos que fazer mais do que resolver dualidades. Precisaremos descobrir todas as facetas do nosso eu mais íntimo sem excluir quaisquer tensões e distúrbios que encontrarmos ao longo do caminho.

Nosso estímulo é o seguinte: Na mesma medida que ignoramos o nosso mundo interior, também iremos temer a passagem do tempo; recearemos o grande desconhecido. Quando somos jovens é fácil deixar essas coisas de lado. Porém, mais cedo ou mais tarde, se não nos confrontarmos, estaremos frente a frente com nosso medo da morte. No entanto, na medida em que nos conhecemos, nos sentiremos realizados na vida. E, neste mesmo grau, a morte não será temida. Ao contrário, ocorrerá como um desenvolvimento orgânico e o desconhecido não mais parecerá uma ameaça.

Fazer este trabalho de autodescoberta não é um piquenique, amigos. Além disso, existem saídas de emergência de todos os lados. Se procurarmos por eles, vamos encontrá-los até mesmo dentro da estrutura deste caminho de crescimento e cura. A única maneira de ter sucesso na tarefa de nos unificar é buscar implacavelmente ver, avaliar e compreender a nós mesmos.

Existem muitos obstáculos a enfrentar no caminho de libertação do medo da morte. Um dos principais obstáculos é o nosso medo de abrir mão das barreiras de separação entre nós e o sexo oposto. Enquanto esses obstáculos permanecerem, nosso medo da morte existirá com a mesma intensidade. Há, de fato, uma conexão direta entre três medos específicos:

1) Medo de nós mesmos e do que está escondido em nosso inconsciente.

2) Medo de amar uma pessoa do sexo oposto.

3) Medo da morte.

Talvez a conexão entre os dois primeiros medos esteja começando a ficar clara, mas o terceiro ponto da tríade pode parecer uma ideia nova. Vamos explorar isso um pouco mais para que possamos saber a verdade sendo revelada através destas palavras.

Cegado pelo medo: Insights do Guia Pathwork® sobre como enfrentar nossos medos

Sendo tudo o que podemos ser

Para experimentar a autorrealização, precisaremos nos realizar como homem ou como mulher. Em última análise, para fazer isso, precisaremos superar quaisquer barreiras que existam entre nós e o sexo oposto. Com certeza, esse não é o único aspecto necessário para a autorrealização. Talvez precisemos nos conscientizar de certos talentos que possuímos, ou de alguma boa qualidade, como coragem ou desenvoltura. Talvez precisemos descobrir o quanto temos a mente aberta ou criativa.

Mas nada disso pode realmente florescer, a menos que o homem se torne homem e a mulher se torne mulher. Pois, enquanto existirem obstruções no que diz respeito à união com o outro, qualquer autorrealização que possamos vir a manifestar não será 100% completa. Na verdade, precisamos comprender o seguinte: o que esses bloqueios estão indicando é que existem impedimentos internos que estão bloqueando uma área do eu que evitamos explorar e compreender.

Pense nisso como um sinal de que não estamos totalmente prontos para crescer. E, em vez disso, insistimos que alguma parte de nós permaneça presa na infância. Quando toda a nossa resistência em ver essas partes até então desconhecidas de nós mesmos se for, não teremos mais medo de nós mesmos. E uma vez que nosso medo de nós mesmos tenha desaparecido, não podemos temer ninguém, sejam eles do mesmo sexo que nós ou um membro do sexo oposto.

Libertando-nos de atitudes irrealistas, também liberaremos nosso controle feroz que nos impede de nos deixar levar a um estado de ser. Esse mesmo controle rigido impede a passagem do fluxo cósmico da intemporalidade, que é o que experimentamos quando estamos nos mais altos estados de êxtase com um parceiro. E também é o que experimentamos na grande bênção que chamamos de morte.

A morte tem muitas faces. Para aqueles de nós que estão com medo, agarrados firmemente ao nosso pequeno eu, podemos experimentar o isolamento e a separação como uma forma de morte. Por outro lado, se formos vívidos e livres do medo, não mais empenhados em preservar o pequeno eu, iremos experimentar a morte com o mesmo tipo de glória com que vivenciamos a união nesta Terra!

Portanto, podemos encarar o trabalho da autorrealização por três lados. Primeiro, precisamos remover as barreiras que existem entre as áreas consciente e inconsciente de nossa psique. Em segundo lugar, devemos remover as barreiras que surgem entre nós e nossos parceiros, sejam eles quem forem, nesta fase de nossa jornada. Terceiro, precisamos olhar para as barreiras que existem entre nós e a corrente cósmica.

Quando estivermos sendo carregados por esta corrente, parecerá que tudo está bem com o mundo. Quando não confiamos na passagem do tempo, temos medo de nós mesmos, das outras pessoas e do fluxo da vida que nos leva adiante. Assim, nós nos agarramos ao nosso pequeno eu egoísta, criando muros de neblina entre nós e nossa consciência superior.

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A grande tríade: orgulho, obstinação e medo

As nuvens que impedem viver plenamente o presente são compostas basicamente por três coisas: orgulho, obstinação e medo. De uma forma ou de outra, todas as nossas falhas e confusões, conflitos e equívocos são derivados desses três erros básicos. E essa mesma tríade bloqueia as três rotas para a autorrealização que acabamos de mencionar. Vamos examinar isso mais de perto.

Qual é a grande barreira entre a consciência e o inconsciente? Orgulho. Ele tranca a porta porque, vamos encarar a real, não ficaremos animados com o que vamos encontrar por lá. Não será nada agradável, digamos assim. Mesmo que o que encontrarmos não seja tão ruim, ainda assim, receamos que possa ser. Afinal de contas, esperávamos que todos nos admirassem o tempo todo. Esta é a razão pela qual, frequentemente, seguimos os valores das pessoas cuja aprovação desejamos. Mas quando fazemos isso, criamos um muro de orgulho, nebuloso, que impede a nossa percepção.

A obstinação nos deixa apreensivos com o que vamos descobrir. Porque não queremos ser forçados a fazer algo que nosso pequeno ego não gosta. Além disso, não estamos entusiasmados em desistir de algo que ainda não estamos dispostos a renunciar. Nossa obstinação quer que nosso pequeno ego permaneça no controle, muito obrigado, para que possamos continuar nos apegando ao conhecido.

E, por último, o medo surge para nos fazer acreditar que a realidade não é confiável. Melhor ficar com o que já conheço. Na verdade, no mais profundo do nosso inconsciente, existe um fluxo de realidade cósmica, de eventos cósmicos. Se entrarmos nesta corrente, ela nos trará realização, sentido e felicidade. Mas quando não confiamos nesta corrente e, portanto, nos agarramos firmemente ao que conhecemos, acreditando que podemos nos sair melhor do que se nos arriscarmos e nos entregarmos ao desconhecido, então construímos um muro de medo. E esse medo é o que nos impede de alcançar o pleno autorreconhecimento.

Essa tríade onipresente de orgulho, obstinação e medo também surge entre nós e nossos parceiros, criando barreiras. Quer sejamos homem ou mulher, o orgulho levanta a cabeça porque tememos o aparente desamparo—e a vergonha que vem com ele—de nos entregarmos a uma força que é maior do que o nosso pequeno ego. Qualquer pessoa que já teve um relacionamento sabe que amar é uma questão de humildade, tornando-se, assim, inimigo do orgulho.

Do lugar do orgulho, queremos dar as cartas. Queremos direcionar toda a ação e controlar todos os resultados. Não queremos nos entregar a nenhuma força, mesmo que essa força seja incrivelmente desejável. Então, todos nós passamos a vida desejando amar, enquanto estamos ocupados tentando bloquear o amor. Nossa esperança é que possamos chegar num acordo com essas correntes contraditórias que nos atravessam a alma.

Sem dúvida, a força que nos impele em direção ao amor é grande. Vem de nossa natureza mais profunda e mais íntima. Mas os antagonistas orgulho, obstinação e medo conspiram para nos afastar do amor.

A obstinação também se opõe ao amor porque deseja o controle individual. Ele não quer desistir de si mesmo e não vai desistir. Parece-nos - erroneamente, é claro - que só estamos seguros quando temos apenas a nós mesmos para obedecer. Deixar ir e amar, então, parece não fazer sentido. Mas isso é realmente assim?

Ser realista e objetivo e, ao mesmo tempo, ser capaz de renunciar ao controle e se entregar corajosamente ao amor, são forças altamente compatíveis. Na verdade, elas são interdependentes. Mas bloqueamos a experiência do amor por medo de perder nossa dignidade—de que nosso orgulho seja ferido—e pelo medo de que teremos de desistir de nossa individualidade. Em outras palavras, tememos ter que deixar nosso ego que clama por nós. Na realidade, só podemos ganhar a verdadeira dignidade e personalidade quando estivermos dispostos a abrir mão do nosso orgulho e obstinação.

Cegado pelo medo: Insights do Guia Pathwork® sobre como enfrentar nossos medos
Para evitar que abandonemos o navio prematuramente, nosso instinto de vida deve ser muito forte. E isso só pode operar enquanto a morte permanecer um grande mistério, um desconhecido.
Para evitar que abandonemos o navio prematuramente, nosso instinto de vida deve ser muito forte. E isso só pode operar enquanto a morte permanecer um grande mistério, um desconhecido.

A tríade sobre a morte e o morrer

Morrer é realmente a renúncia definitiva à direção própria. Então, de uma maneira estranha, render-se à morte pode parecer humilhante. Como tal, quando olhamos para nossa atitude em relação à morte, é provável que mais uma vez sintamos a influência da tríade do orgulho, da obstinação e do medo.

Como um meio de evitar a verdade humilhante de que, quando se trata da morte, o ego não tem total poder de decisão, nos apegamos firmemente ao nosso orgulho e à nossa obstinação, o que efetivamente cria ondas de medo cada vez mais fortes.

Então, aqui estamos nós, confrontados com uma aparente dualidade entre desistir de nós mesmos e obter plena posse de nós mesmos. Parece um paradoxo: passamos a vida tentando nos encontrar para que possamos nos entregar na união com outra pessoa e depois morrer? A verdade é que não podemos desistir de algo que não encontramos; não podemos abrir mão de algo que nunca possuímos de verdade.

Então, se a morte e o morrer deveriam ser geniais—uma experiência tão abençoada—por que pensamos que sejam tão sombrios? Por que não temos um instinto de morte tão forte quanto aquele que nos leva a nos perder no amor? Por que temos que nos esforçar tanto para superar o medo da morte? Por que devemos lutar tanto contra este grande desconhecido?

Há uma boa razão para as coisas serem do jeito que são. Já que não seria fácil desejar a morte quando a vida se torna dura, dolorosa e insatisfatória? Verdadeiramente, no estado inacabado em que estamos—ignorantes e muitas vezes em um estado cego de terror—certamente seria tentador escapar para a morte. Mas a morte, infelizmente, não se revela diferente da vida. Ambos são intrinsecamente o mesmo.

E assim, para evitar que abandonemos o navio prematuramente, nosso instinto de vida deve ser super forte. E isso só pode funcionar enquanto a morte permanecer um grande mistério, um desconhecido. Meras palavras nunca podem tirar nosso medo do desconhecido. Portanto, nosso instinto de vida consegue continuar a manter nossos pés no planeta. Em vez de ceder a motivos destrutivos, encontramos energia para tentar e tentar novamente.

Eventualmente, acabaremos por adquirir a maestria da vida através da compreensão de si mesmo. Dessa forma, faremos as pazes com todo o universo. E quando chegarmos a este ponto, finalmente também nos ocorrerá que a morte não é algo que precisamos temer. Pois, nosso medo só existe na proporção direta ao nosso medo de viver e amar. Dessa forma, perceberemos como se pode transcender a dualidade da vida e da morte. E assim, a ilusão de que elas são antagônicas começa a se desvanecer.

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Encontrando a paz

Essas palavras só fazem sentido quando não vemos mais a vida como uma ameaça. Então, não precisaremos mais fugir da existência e o nosso instinto de sobrevivência pode se aquietar. Pois, a pulsão da vida não está mais em oposição à pulsão de morte. E conforme elas forem se fundindo, cessaremos a agitação ou a repressão.

Pois, se olharmos de perto, veremos como estamos perpetuamente flutuando entre dois pólos. Ou estamos tentando atrasar o tempo, praticamente agachados em uma posição limitada pelo medo. Ou estamos nos precipitando para o futuro porque simplesmente não podemos suportar o momento presente. Na verdade, é raro o dia em que estamos em completa harmonia com a corrente cósmica de nossas vidas e de nós mesmos.

É isso o que significa estar em paz conosco, estar em harmonia com Deus. Não nos freamos tampouco empurramos, mas vamos nos tornando a corrente da vida. Tomamos posse de nós mesmos, sem medo de renunciar ao controle. Esta bela combinação é o que vivenciamos quando somos abençoados por irmos ao encontro do nosso semelhante. E teremos, finalmente, o privilégio de experimentar tal paz à medida que transitarmos para outra forma de consciência.

Qual é a chave que gira a ignição e nos conduz nesta direção? Tudo está na autodescoberta que nos espera em muitos níveis no fundo de nosso ser. O problema é que, frequentemente, projetamos nossos males internos nos outros e no mundo exterior, na esperança de evitar o que parece ser um autoconfronto terrível. Embora isso pareça nos dar uma certa satisfação temporária, ao final nos deixa com um grande vazio.

Se, em vez disso, continuarmos a nos esforçar em direção ao autoconhecimento, um passo de cada vez, um dia dissolveremos as nuvens e barreiras que obstruem nossa visão. Quanto mais mergulharmos no fluxo atemporal de nossa consciência superior, mais ele nos fornecerá a sabedoria, a integridade e a verdade que podem nos ajudar a navegar todos os dias na direção certa. A verdade é que vamos ver tudo isso com clareza e depois esqueceremos novamente. Então, a perseverança é extremamente necessária. Mas, nosso contato com o fluxo de vida nos informará sobre o significado maior de toda a criação.

Podemos comparar a verdade ao sol, ao redor do qual todos os outros planetas giram. Lá no centro, a verdade brilha intensamente, mesmo quando coberta por nuvens. As nuvens, como dissemos, são feitas de nosso orgulho, obstinação e medo, além de nossa ignorância que nos faz avançar ou lutar contra ele. Mas naquele momento precioso em que percebemos nossa verdade, por mais insignificante que possa parecer no grande esquema das coisas, as nuvens se dissipam. Seremos tocados pelo calor que irradia da verdade de nossa consciência superior. Teremos força renovada e sensação de bem-estar. E seremos cheios de alegria e paz.

Não desejemos afastar nossos medos, nem nosso orgulho ou obstinação, esperando que o sol interior brilhe independentemente do que façamos. Não funciona assim. A verdade está constantemente pronta para nos aquecer e nos animar, mas primeiro, temos algo a superar. Falar da boca para fora não nos levará muito longe. Não temos que ser perfeitos. Na verdade, já somos perfeitos em certo sentido, sempre que estamos dispostos a chegar a um acordo com nossas imperfeições atuais.

É quando paramos de lutar contra o eu, livrando-nos assim do pesado fardo do orgulho e da pretensão, que nos dispomos a mudar. É quando abandonamos nossa obstinação que nossa coleção de medos começará a evaporar como uma pedra de gelo ao sol.

“Estejam em paz, estejam em si e, portanto, em Deus!”

– Guia Pathwork
Cegado pelo medo: Insights do Guia Pathwork® sobre como enfrentar nossos medos

Leia a Palestra Original do Pathwork nº 123: Liberação e Paz Ao Superar o Medo do Desconhecido