Temos olhado para a relação entre a nossa consciência do ego e a inteligência universal. Quando estamos funcionando principalmente a partir do nosso ego, ficaremos desequilibrados e atolados em problemas. Também podemos inverter essa situação e afirmar que, se tivermos problemas internos, ficaremos inevitavelmente desequilibrados e enredados em conflitos externos. Não importa a direção de onde viemos, sempre acrescenta o mesmo: o ego tem que aprender a se desapegar de si mesmo. Então, vamos falar sobre a rendição.

É insuportável para o ego isolado estar perpetuamente desperto, mas não totalmente vivo.
É insuportável para o ego isolado estar perpetuamente desperto, mas não totalmente vivo.

Muito conhecimento intelectual sobre o papel que o ego limitado exerce em relação ao Eu Real não nos ajudará muito. Precisamos encontrar uma nova abordagem dentro de nós que possibilite o desapego acontecer de uma maneira saudável e harmoniosa. Vamos esclarecer mais sobre esse importante tópico na sequência.

Por que o ego deve aprender a deixar ir

Quando o ego opera em um vácuo, sem se reabastecer na fonte interior, na qual nossa força vital flui livremente, ele seca, definha e murcha. Literalmente, se ele fosse deixado para viver sem o benefício da ajuda do Eu Real, o ego morreria. Olhando sob esse ponto de vista, o processo da morte é iluminado por uma nova luz.

Essa fonte de vida é o eu universal que habita no coração de cada alma. Quando encarnamos, nosso ser espiritual se condensa na matéria grosseira que constitui este mundo material. Essa condensação na matéria acontece porque uma parte separada da consciência geral - a parte que chamamos de ego - está desconectada do todo, do eu universal. Essa desconexão causa o estado do ego, que por sua vez resulta nesta vida material. E é assim que chegamos a essa experiência dos ciclos de vida e morte.

Se qualquer um de nós supera a separação, nos libertamos do processo de morrer. Quando não temos mais medo de nos desapegar - de nosso ego - uma reconexão com as forças universais se torna possível. Isso não é algo para se esperar no além. Pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, desde que se trate do nosso estado de consciência.

Três estados de reabastecimento

Uma das maneiras de nos reabastecermos regularmente é entrando no estado que chamamos de sono. Se não conseguirmos dormir - se tivermos insônia - isso é um sinal de que estamos enredados em nosso ego e, portanto, profundamente perturbados. Visto que o ego é muito predominante, não podemos nos entregar às forças involuntárias da vida. Nosso ego está nos atrapalhando por não soltar as rédeas.

Podemos não estar conscientes de que é isso que estamos fazendo, mas, mesmo assim, estamos fazendo isso. Se temermos e rejeitarmos as forças do Eu Real, bloquearemos as maneiras automáticas e temporárias de submergir nele. O sono, então, é um estado que permite que o ego descanse das tensões e tarefas domésticas. Há uma força especial que ganhamos com essa imersão no oceano divino do ser. Mas se nosso ego está hiperativo, o sono não pode vir e perdemos essa forma mais primitiva e universal de rejuvenescimento.

Outro estado que nos reabastece é o amor mútuo. Quando nos desapegamos através do autoesquecimento intenso e saudável, mergulhamos no mar vasto de beleza e poder universal. Isso acontece quando aceitamos e nos fundimos com outra “esfera” ou pessoa. Ao nos fundirmos em outro ser, fazemo-nos compatíveis com a força universal de vida e temos uma experiência que preenche todos os níveis do nosso ser: mental, físico, emocional e espiritual. Assim sendo, uma conexão sexual amorosa é a experiência espiritual mais completa que podemos ter.

Ao participar do nosso Eu Real, somos nutridos por essa substância criativa em todo o seu esplendor. Ao desapegarmos do ego, ele fica temporariamente imerso e isso resulta em uma folga temporária das suas obrigações. No entanto, ele ressurge mais forte e melhor que antes! Na verdade, o ego se torna mais sábio, mais flexível e repleto de prazer. Uma vez que tenha mergulhado nesse oceano celestial, o ego mudará para sempre.

O ego não é somente enriquecido, mas sua capacidade de se entregar e permanecer submerso na bem-aventurança—por estar no amor e na verdade—expande proporcionalmente. Essa fusão intensa do ego com um outro é o modo mais eficaz de esquecermos e transcendermos a nós mesmos.

Outro estado de reabastecimento é a meditação. Esse não é um exercício mental, mas sim uma entrega total de nós mesmos para a divina inteligência. Devemos fazer isso para resolver problemas específicos, e não de uma maneira geralizada. Seja onde for que nossos obstáculos pessoais—os quais sempre inclui o medo—fechem a porta para nosso Eu Real, meditar sobre eles pode ajudar. Se for muito fácil, provavelmente estaremos nos enganando.

Quando somos capazes de superar esses obstáculos—pois nosso amor pela verdade é maior que nosso apego aos nossos erros—podemos nos entregar ao mar de sabedoria que irá nos revitalizar e nos animar. Ao bebermos da verdade, a nova sabedoria também pode abrir muitas outras portas interiores.

Em cada um desses casos, o ego renuncia a si próprio e passa a participar de algo muito maior no interior. Quando se leva uma vida saudável, idealmente, somos capazes de buscar e desfrutar de todas essas experiências regularmente. Criamos a possibilidade para que isso aconteça através da nossa prontidão, atitude correta e compromisso com a vida. Quando isso acontecer, eventualmente, toda a nossa vida será ativada por nosso Eu Real cósmico, até que ele e nosso ego sejam um.

Nesse ponto, essa inteligência maior assume o controle de nossas vidas, permitindo que o ego flua e torne-se flexível. Então, podemos relaxar, permeados pelo conhecimento, prazer e poder do nosso verdadeiro ser espiritual. Tudo o que fazemos, não importa o quão mundano for, pode agora ser inspirado pelo Eu Real, o qual age livremente e por conta própria. Não precisaremos fazer nenhum esforço para entrar em contato com nosso Eu Real, pois não haverá mais medo ou resistência a superar. Quanto mais fizermos isso—desapegarmo-nos e nos fundirmos com nosso Eu Real—mais nos sentiremos reabastecidos.

O que impede que tudo isso aconteça são as obstruções interiores que nosso ego não está disposto a remover. Qualquer que seja o caso, a vida seca e a morte se infiltra. Quando nos tornamos completamente secos, a morte física é o resultado final e natural. Então, qual é a causa da morte? A separação do nosso próprio ego do nosso eu mais profundo e maior.

A mudança só pode acontecer eliminando as obstruções e nunca arando por cima delas.

A mudança só pode acontecer eliminando as obstruções e nunca arando por cima delas.

Maneiras insalubres de deixar ir

Pronto para dar um passo adiante? Vamos examinar mais de perto as razões pelas quais aquilo que nos dá vida nos assusta tanto. Por que reagimos dessa maneira, acreditando que a conexão com a fonte de toda a vida nos aniquilará? O que nos faz insistir em acreditar - consciente ou cegamente - que o tipo de experiências vivificantes de que estamos falando são perigosas? Por que nos recusamos a abandonar o controle por meio de nosso ego e mergulhar em um vasto mar de consciência eterna e leis divinas? Por que nos paramos e impedimos tudo isso?

Por mais que lutemos freneticamente na superfície, por baixo somos os bloqueadores da vida. Possivelmente, nós pensamos, Eu simplesmente não fui feito assim. Não tão. O desejo por esse contato nunca pode ser eliminado do coração humano, independentemente de quanto conflito, confusão e medo exista. Então, o que é que faz com que nos agarremos às atitudes que afundam nossa chance de obter reabastecimento na fonte, visto que isso seca a psique e leva à morte, ao mesmo tempo que torna a vida desagradável e sombria? De onde tiramos a ideia de que uma vida guiada pelo ego é segura e preferida?

É intrigante, certo? Em muitas outras palestras, já abordamos um pouco sobre isso e descobrimos algumas das razões—na verdade, razões falsas—de por que achamos que precisamos nos proteger desta mesma coisa que nos faz vivos e preenchidos com bem-estar. Nós já olhamos para as conclusões erradas e distorcidas, bem como para o pessimismo que torna as pessoas tão destrutivas e que as fazem preferir desistir de suas vidas ao invés de “se entregar”. Ao menos isso é o que aparenta ser para nós.

Mas agora chegamos ao ponto em que todos devem chegar eventualmente em sua viagem espiritual, onde nos deparamos com um patamar muito importante que devemos atravessar em nossa jornada evolutiva.

Antes de começarmos, há mais uma coisa para ser enfatizada novamente sobre isso. Nossa necessidade de nos desapegar do nosso ego é tão grande que, quando a parte amedrontada e distorcida da nossa personalidade se defrontar com esse processo natural, ela irá procurar por um caminho que não é natural. É por isso que tantas pessoas procuram o consolo das drogas. E é por isso que uma pessoa que não consegue dormir toma remédios ao invés de fazer a tarefa mais difícil de remover o que está bloqueando o seu ego e, assim, vencer o problema verdadeiro.

O medo e as distorções interiores também são o motivo pelo qual uma pessoa cujo ego tem o controle predominante—e, portanto, não está sendo reabastecido suficientemente—de procurar meios autodestrutivos. Engajar-se em atos autodestrutivos é como caminhar com a morte. Estamos cortejando-a e apressando o passo para alcançá-la. Pois quando todas as outras maneiras de obter alívio falham, a morte se torna a grande libertação que procuramos. Preferimos morrer ao invés de desistir de nossas ideias falsas.

Nossa teimosia em recusar-se a descobrir a verdade e todos os hábitos autodestrutivos aos quais recorremos são essencialmente formas lentas de suicídio. Na mesma medida que tememos a morte, também devemos inconscientemente desejá-la. E esse desejo surge pois é tão insuportável para o ego isolado estar sempre acordado, mas não totalmente vivo. Portanto, estamos em uma situação de ambivalência.

Por um lado, tememos desapegarmo-nos do nosso ego de uma maneira saudável, e por outro, estamos recorrendo desenfreadamente às maneiras doentias para conseguir abandoná-lo. Esta é uma das dualidades com a qual devemos viver se insistimos em permanecer separados.

Agora é hora de examinarmos a razão fundamental pela qual tememos o modo saudável de nos desapegarmos e permitir que nosso Eu Real “viva em nós”. Por que não conseguimos confiar nessa sabedoria superior e nesse ser divino interior tão bem organizado? Vamos levantar esses motivos lá das profundezas do nosso inconsciente, onde, para muitos de nós, eles estão descansando. Pois devemos ver o que está acontecendo sob a luz clara do dia. Caso contrário, vamos acabar tentando nos forçar a mudar antes que tenhamos certeza do que está acontecendo com nossas atitudes destrutivas. E nada real pode ser conquistado dessa forma. A mudança somente pode acontecer removendo as obstruções e nunca abrindo caminho por cima delas.

Só pareceremos vítimas se nos recusarmos a admitir nossas tendências destrutivas, que vão de encontro à nossa autoimagem organizada.

Só pareceremos vítimas se nos recusarmos a admitir nossas tendências destrutivas, que vão de encontro à nossa autoimagem organizada.

A causa raiz de não se render

Aqui está a causa principal desta condição em que muitos estão, onde o ego tem o controle primário: há uma lei espiritual que torna perigoso para o ego se desapegar, se ele estiver se prendendo em atitudes incompatíveis com as leis do Eu Real. Essa é a chave. Portanto, seja qual for a área na qual insistimos em utilizar nossos meios destrutivos, será simplesmente impossível se desprender do ego de uma maneira segura e saudável.

E quais são as atitudes saudáveis que o ego precisa adotar? Ele deve ser amoroso, generoso e aberto, bem como ele precisa ser confiante, realista e capaz de se afirmar. Essas são as qualidades que encontramos na realidade cósmica e nas leis divinas sobre as quais o universo trabalha. Violar nosso Eu Real é odiar e ser fraco, alimentando nossa separação, ilusões e falta de confiança. Teremos uma tendência de nos prejudicarmos, ao invés de nos cuidarmos, e de agir contra os nossos melhores interesses.

Viver com um ego tão doentio é lutar pelo oposto do que significa ser divino. Não estaremos equipados para cuidar de nós mesmos, então a vida será repleta de medo. A insegurança se tornará nossa companheira constante. Sem ter o apoio de nada de substância real, o ego anseia por escapar da tensão e dos aborrecimentos perpétuos e, se ficar ruim o suficiente, pode escolher se libertar por meio da insanidade.

Como é ser destrutivo? Não desejamos ser positivos, dar o nosso melhor nas áreas onde estamos descontentes e em conflito. Negamo-nos a ver que somos nós que bloqueamos a satisfação. E nossa falta de consciência faz ser impossível atravessar as barreiras.

Portanto, é necessário que comecemos a ver como estamos sendo destrutivos. Para isso, podemos adotar a posição de um observador objetivo. Observando-nos por um tempo, de uma maneira neutra. Uma autoavaliação assim requer uma certa quantia de autoaceitação e a determinação de abandonar nossas ilusões. Também, precisaremos parar com toda a autoglorificação, fingindo ser mais do que realmente somos.

Embora grande parte do ego seja consciente - estamos cientes de nossos comportamentos - o ego também tem um lado inconsciente. Se a parte inconsciente do ego se apega a uma atitude destrutiva, essa parte não é compatível com as forças do Eu Real. Portanto, quando tal ego se solta, não há rede. Não é compatível. Não consegue encontrar nada em que se agarrar e se torna completamente desorganizado.

Desse modo, um ego que não é guiado e inspirado pelo Eu Real não consegue lidar com mais nada. Ele se torna completamente desassociado de qualquer inteligência. Pode-se até dizer que tal ego estava “certo” em não se desapegar. Pois não há mais como viver.

Enquanto nos recusarmos a abdicar da nossa destrutividade, o ego precisará se segurar em algo se quisermos ter um pouco de sanidade. É melhor, apesar de tudo, ter uma percepção exagerada de self, causado por um ego inflado, do que se desintegrar. Se não houver confiança no Eu Real, o ego que se desprende não tem mais nada no que se apoiar. Portanto, se não confiarmos na inteligência universal, ficaremos com a inteligência limitada, a lógica limitada e as leis limitadas da esfera do ego. E isso já é algo. Não importa quão limitada seja a mente do ego separado em comparação com o eu maior cósmico, ele ainda tem alguma capacidade de raciocínio e compreensão limitada da realidade. E, convenhamos, sem a força de vontade do ego, a força de vontade divina—mesmo que seja de um estado superior—também não pode operar.

Então, aí está a razão por que temos tanto medo de nos desapegarmos. Com esse entendimento, podemos olhar para as nossas vidas de uma perspectiva diferente. Ou seja, se sentimos que não podemos nos desapegarmos, significa que temos algumas forças destrutivas correndo soltas dentro de nós. Em algum lugar no interior, temos uma força de vontade que quer ser destrutiva. Essa vontade é algo sério. Não há uma força aleatória nos fazendo ser destrutivos contra nossa própria vontade. Não, nós mesmos somos os destruidores.

Iremos parecer vítimas somente enquanto nos recursarmos a admitir nossas tendências destrutivas, o que vai contra a nossa bela autoimagem. E é, na verdade, essa destrutividade que nos deixa com medo e inseguros, já que não queremos vê-la, muito menos nos separar dela. Olhar a situação sob essa perspectiva nos ajudará a eliminar a ilusão própria. E isso nos ajudará muito a diminuirmos nossa destrutividade. Certamente, ainda vamos querer ser destrutivos em algumas áreas, mas é bom poder reivindicar um pouco de progresso onde pudermos.

A verdade sobre a destrutividade

Como é ser destrutivo? Pode não ser tão claro e óbvio como achamos. Geralmente, isso acontece da maneira sutil com que o ego se agarra para permanecer separado. Talvez, não queremos nos expandir e ser amorosos ou bondosos. Talvez, somos vingativos, punindo aos outros com nosso próprio sofrimento. A doença pode ser uma maneira de fazer isso. Essas atitudes vagas e fugazes podem ser difíceis de notar. Elas podem ser tão obscuras, quase parece que não existem. Até que um dia temos um vislumbre e, então, fica difícil não as ver mais. Elas, então, tornam-se tão distintas, como um mapa em relevo que se ergue e nos mostra a verdadeira configuração do terreno.

Talvez nós pensemos, nas áreas destrutivas da nossa mente, que ninguém realmente sabe o que pensamos e sentimos. Portanto, isso não conta realmente. Não é? Essa é uma atitude comum em relação às nossas tendências menos desejáveis. Gostamos de ocultá-las, acreditando que ao mantermo-nas escondidas, elas se tornam inválidas.

Indo além, achamos que é uma grande injustiça se nossas atitudes destrutivas, escondidas em nossos armários interiores, produzirem qualquer efeito exterior. “Ninguém sabia o que eu senti, só o que fingi sentir! E se eu realmente tivesse sentido o que fingi sentir, seria injusto porque as pessoas reagem ao que senti e não ao que fingi sentir.” Nesse pensamento está a ilusão de que a vida pode ser trapaceada.

Isso reflete a atitude que muitas pessoas têm em relação à vida. Ela conta a história de como muitas vezes não nos entregamos honestamente para a vida, mas inventamos aparências pelas quais desejamos e esperamos ser julgados e consequentemente colher boas recompensas. Sob essas circunstâncias, iludindo-nos que a vida realmente poderia ser assim, torna-se impossível para nós confiarmos nela.

Precisamos perceber o que estamos fazendo e ver onde não levamos a vida a sério, como não damos o nosso melhor à vida e a tudo o que fazemos. Pegar-nos em ação assim—revelar nossas pequenas desonestidades escondidas—é uma atividade construtiva compatível com nosso Eu Real. E podemos começar no minuto em que dissermos interiormente: “Eu quero dar o meu melhor a esse processo de viver. Eu quero contribuir com as melhores forças que estão dentro de mim. Onde eu não estiver fazendo isso e estiver muito cego para ver o que estou fazendo, quero que meu Eu Real me guie—ajude-me a me tornar consciente. Desejo prestar atenção no que estou realmente fazendo.” Com uma atitude sincera como essa, colocamos algo novo em movimento, exatamente no momento em que afirmarmos esses pensamentos positivos

Os lugares que precisamos olhar são as áreas problemáticas da nossa vida. Nosso trabalho está nas nossas dificuldades diárias e essa abordagem é a chave para destravar nossos problemas. Quanto mais cultivamos uma atitude como essa, mais nosso ego se torna compatível com nosso Eu Real. O nosso medo de nos desapegar reduzirá proporcionalmente na medida que formos sendo sinceros. E isso nos fornece algo maior e mais seguro de confiar.

Ao invocarmos a vontade do divino, iremos nos convencer de que o divino realmente existe, pois vivenciaremos pessoalmente sua sabedoria e bondade absoluta. Se acessamos nosso Eu Real, só temos a descobrir seu abraço acolhedor de bondade amorosa e desconhecedor de qualquer conflito. A vontade divina trabalha para o bem de todos, criando a realização e satisfação de todos. Essa inteligência sem divisões é profundamente segura e confiável.

Mas enquanto os objetivos do nosso ego forem diretamente opostos à vontade divina e às leis espirituais, como podemos confiar nele? Como podemos nos aliar com o que nos opomos? Portanto, quando nos sentimos balançados e inseguros, amedrontados e ansiosos por dentro—quando acreditamos que não temos importância—precisamos ter uma atitude destrutiva. Há uma negatividade em nós que ainda não estamos dispostos a desistir.

Sempre que nos sentimos ansiosos podemos nos perguntar: “Onde está minha destrutividade? Onde está minha negatividade? Onde eu me recuso a dar da divindade que está dentro de mim?”

Amar não é a resposta?

Em última análise, as virtudes básicas ensinadas em tantas religiões deveriam resultar em felicidade. Pois, na verdade, se reduzirmos tudo até o último ponto central, é sempre uma questão de amor. No entanto, com isso sendo pregado há milhões de anos, poucas pessoas chegaram a algum lugar. Saber que o amor é a chave para o universo nunca ajudou ninguém. Geralmente, só tem deixado as pessoas mais hipócritas.

Em vez de fazer o trabalho transformativo de desvendar sua destrutividade, as pessoas se iludem acreditando que são amorosas, enquanto por baixo da superfície elas não são. Elas cobriram qualquer sentimento que seja o oposto do amor e se enfeitaram com uma camada superficial que dá a aparência de amor. Esses disfarces não são nada mais que autodecepção e na maioria das vezes as outras pessoas não são enganadas.

Quantas vezes afirmamos que nossa maior fraqueza é que amamos muito? Enquanto isso, fervemos por dentro com indignação e rancor. Declaramos que a razão de sermos tão possessivos e dominantes é porque nós amamos. Mas, interiormente, queremos controle total para que possamos vencer e ter a nossa própria direção. Alegamos que nosso orgulho arrogante e doentio é o amor próprio, contudo realmente só queremos ser melhores do que os outros e não ter que ceder a eles.

Essas são as autoilusões que devemos desmascarar. Mesmo depois de termos feito um progresso significativo em nosso caminho espiritual, podemos ainda não enxergar estas áreas em nós. Sempre que nos seguramos cegamente nessas autoilusões, é um sinal que não queremos nos doar. E essa é uma violação flagrante da lei do amor. É essa violação que sempre aflige qualquer pessoa que esteja com problemas.

Precisamos procurar por ela se estivermos sofrendo de infelicidade. “Onde eu violo a lei do amor? Onde eu me suprimo e permaneço separado? Onde eu falto com integridade, seja com mentiras muito visíveis ou mentiras mais sutis de omissão? Onde eu estou me iludindo? Onde eu me recuso a dar e me recuso a ceder?” Essas são perguntas importantes que devemos fazer e devemos responder. E a resposta pode estar em outra direção do que esperamos. O que é verdade pode ser diferente do que pensávamos.

Viver a partir do nosso ego é estar preso em insegurança, criando uma vida insuficiente que é dolorosamente limitada. Que realidade assustadora. Ninguém realmente quer que sua vida termine. Mas, infelizmente, o ego separado tem que ter um fim. Somente batalhando para encontrar nosso caminho de volta para o nosso Eu Real, onde estamos mais uma vez em alinhamento com a lei do amor e também com a lei da verdade, nosso ego pode se desapegar com segurança e se tornar um com o divino.

O caminho para sair de nossa estagnação só se torna desesperador se desviarmos o olhar do ponto em que estamos presos.

O caminho para sair de nossa estagnação só se torna desesperador se desviarmos o olhar do ponto em que estamos presos.

Como se desvencilhar

Cabe a nós fazer a escolha de continuarmos alinhados com a negatividade. Queremos continuar nos satisfazendo em nossos ressentimentos e autopiedade, criando casos contra os outros e nos iludindo que somos nós a parte lesada? Tudo isso nos dá um certo prazer que relutamos em ficar sem, ainda que o preço que pagamos por esses luxos sejam realmente altos.

Enquanto escolhermos este tipo de prazer—e toda a dor, culpa e insegurança que vem com ele—deixamos de nos sentirmos bem. E nos sentirmos bem é nosso direito. Porém, enquanto gostarmos de nos sentirmos mal, sentirmo-nos bem aparentará ser assustador. Entretanto, se abrirmos mão da nossa alegação de que somos a vítima—o que alimenta nossa autopiedade, ressentimentos e nossa acusação contra todos que fazemos responsáveis pelas áreas podres na nossa vida—não sentiremos mais medo dos bons sentimentos.

Se retirarmos nossa negatividade, automaticamente nossa confiança será restaurada. Funciona como uma gangorra. Vejamos a aversão a si mesmo, por exemplo. Não adianta apenas dizer que não sentimos mais autoaversão. Com certeza, tentativas como essa irão falhar. Mas na medida que retiramos as desculpas porque não nos gostamos, a autoaversão irá parar por si mesma.

O mesmo acontece com a confiança. Automaticamente começaremos a confiar quando descobrirmos as razões justificadas para não confiarmos em nós mesmos. A força universal de vida está trabalhando continuamente para reestabelescer o equilíbrio.

A melhor coisa a fazer é nos fortalecermos diariamente em meditação. Podemos dizer em nosso interior: “Eu quero me livrar da minha destrutividade. Se eu ainda não posso fazer isso, peço ao meu Eu Real para me ajudar a ver onde estou preso e me ajudar a sair deste atoleiro. Isso é o que realmente quero.” Agora, se sentirmos que de fato que não queremos mais isso, não vamos encobri-lo mais. Pois é crucial ver e entender esse obstáculo.

Esse, então, torna-se nosso novo ponto de partida. A partir daqui podemos dizer: “Eu quero descobrir o porquê não quero o bem. O que está me impedindo de querer bons sentimentos?” Em qualquer área que encontrarmos bloqueios, podemos dizer: “Eu gostaria de poder querer isso. O que está me impedindo? Quero dar o meu melhor para ver onde e por que estou emperrado.”

Esta é a saída da nossa estagnação. O caminho só se torna desesperador se desviarmos o olhar do ponto em que estamos emperrados.

Talvez percebamos que não gostamos de ninguém. Qual é o caminho a seguir nesta situação? Em primeiro lugar, devemos perceber que essa aversão pelas outras pessoas—a qual está inevitavelmente conectada com uma aversão básica a nós mesmos—também é uma questão de falta de confiança. Uma área possível de ser explorada é nossa tendência à dramatização e ao exagero demasiado. Às vezes assumimos que o que está acontecendo conosco é tão ruim que não há uma alternativa possível de resolução. Mas, na verdade, nós exageramos essa situação ruim e a distorcemos centenas de vezes.

Agora precisamos olhar para tudo que nos machucou no passado—desde quando podemos nos lembrar—bem como no presente, e vê-los sob uma nova perspectiva. Talvez, haja um novo significado além daquele que assumimos automaticamente. Vemos tudo como se estivesse bloqueado e imutável, sem uma saída possível que não seja devastadora.

É a nossa atitude que precisa mudar, junto com o nosso desejo de ver uma realidade melhor. Achamos qua estamos vendo toda a situação, mas da perspectiva do nosso ego estamos olhando para uma fatia muito limitada. Então, podemos perguntar: “Essa é toda a verdade? Poderia haver outros aspectos que estou ignorando porque me fechei?”

Também podemos nos perguntar: “Eu quero gostar das pessoas?” Talvez nossa mente diga que nós precisamos gostar das pessoas, mas nós resistimos. O simples fato de nos conscientizarmos desse conflito interno nos ajudará a prosseguir muito em nossa jornada espiritual. E a consciência é um pré-requisito obrigatório para sair do sofrimento. Estar consciente, então, é necessário para ver a parte que diz Não.

Com essa compreensão do nosso Não interior, podemos perguntar: “Por que não?” Em vez de propor uma teoria generalizada, será muito mais útil se pudermos propor uma resposta específica que realmente se aplique a nós. Considere tomar uma nova abordagem para compreender o porquê não queremos gostar das outras pessoas. Deixe as respostas infantis, ilógicas e irracionais surgirem. Dê permissão e espaço para qualquer coisa que surgir. Essa é a maneira de descobrir a verdade real sobre o nosso Não interior.

É o mesmo para todas as pessoas: antes que possamos desenvolver nossa capacidade de amar, devemos primeiro estar dispostos a amar. Pois, se não tivermos essa vontade essencial, não há nada que possa ser feito. A vontade é realmente o ponto crucial da questão e deve existir em todos os níveis para que nosso amor seja completo. Se ela existir apenas na superfície, nossos relacionamentos também terão apenas um centímetro de profundidade.

Ao invés, nós geralmente ignoramos o fato de que não estamos dispostos a amar—não temos consciência do nosso Não interior oculto—e depois reclamamos impiedosamente dos resultados. Nós somos vítimas, nós gritamos! Desperdiçamos toneladas de energia reclamando e nos sentindo uma vítima. Essa energia poderia ser usada para procurar o porquê não queremos amar. Estamos em um círculo vicioso, projetando nossas doenças para o mundo e não percebendo que somos nós que seguramos a chave.

Com essa chave, entretanto, podemos começar a entender nossa solidão e abandonar nossa crença de que o destino está pregando uma peça horrível em nós. Que alívio maravilhoso. Mas ninguém pode nos dar as respostas vindas de fora. A verdade pode vir somente de dentro. Felizmente, isso é perfeitamento possível.

Nossa destrutividade e mal-entendidos sobre a vida prendem-se a nós somente porque nos prendemos a eles. Uma vez expostos, é relativamente fácil de vencê-los. Uma transição como essa é a coisa mais significativa que poderia acontecer em nossas vidas. Não há absolutamente nada que possa se igualar a esse processo.

Aqueles de nós que não têm coragem de olhar para si mesmos em verdade—para abandonar nossas ilusões—não podem alcançar essa transição. Não podemos abandonar algo que não sabemos que temos. Não podemos abandonar uma destrutividade que negamos que exista em nós.

A verdade nos levará a amar, e o amor sem a verdade não é possível. Eles são realmente um.

Há um poder enorme à nossa disposição e quanto mais nos conectarmos com ele, mais disponível ele se tornará. Ele não é dependente de mais ninguém, pois flui do centro do nosso ser. Esse poder fluirá e nos nutrirá onde quer que nos libertemos das amarras da dominação do ego.

“Sejam abençoados em corpo, alma e mente. Sejam todos penetrados com o amor e a verdade do universo, para que eles possam ajudar a libertá-los. Estejam em paz, estejam em Deus!”

– Guia Pathwork

After the Ego: Insights from the Pathwork® Guide on How to Wake Up

Próximo Capítulo
Voltar para Depois do Ego Conteúdo

Leia a Aula Original Pathwork nº 161: A Negatividade Inconsciente Põe em Perigo a Rendição do Ego a Processos Involuntários