Nossas tentativas de nos encontrarmos—entender quem somos, onde pertencemos no mundo e como podemos nos sentir realizados—requerem uma certa quantia de entendimento e força. Se levamos vidas significativas e satisfatórias, também depende inteiramente da relação entre nosso ego e nosso Eu Real. Se esse relacionamento estiver em equilíbrio, tudo se encaixará em seu devido lugar. Todos os ensinamentos do Guia Pathwork estão apontando para esse mesmo tema, olhando para ele de múltiplas direções, para nos ajudar a nos abrirmos para esta verdade como nossa experiência pessoal.

Também podemos chamar nosso Eu Real de princípio de vida universal, que se manifesta em cada um de nós. É a própria vida. Pois é uma consciência sem fim, tanto no sentido mais profundo quanto no mais elevado. É o movimento supremo e infinito do prazer, tudo em um. Desde que is vida, ela nunca pode morrer. É a própria essência de tudo que se move e respira. É uma vibração eterna. Ele sabe tudo e, uma vez que só pode ser fiel à sua própria natureza, está constantemente se criando e promovendo.

Nosso intelecto externo não é páreo para essa sabedoria interna. Este é o nosso “melhor eu”. Essa inteligência mais vasta se apresentará na forma de orientação, intuição e inspiração.
Nosso intelecto externo não é páreo para essa sabedoria interna. Este é o nosso “melhor eu”. Essa inteligência mais vasta se apresentará na forma de orientação, intuição e inspiração.

Cada pessoa—cada consciência individual—é essa consciência universal. Não somos somente parte dela, pois isso implicaria a ideia de que somos apenas uma pequena gota dela. Não, na verdade, nós somos consciência universal. E essa consciência original, ou princípio criativo de vida, pode assumir muitas formas. Quando cada um de nós encarna, nessas várias formas, esquecemos nossa conexão com a origem. Naquele momento, acontece uma desconexão. Continuamos a existir e ainda contemos a consciência universal, mas nos tornamos inconscientes à nossa própria natureza. Perdemos a noção das leis espirituais básicas e do nosso potencial. Isso, em poucas palavras, descreve o estado geral da consciência humana.

Quando começamos a nos tornar conscientes desse Eu Real, percebemos que, na verdade, ele sempre esteve lá. Só não o havíamos notado pois tínhamos a impressão de ter sido separados dele. Portanto, não está certo dizer que nosso Eu Real “se manifesta”. Mais corretamente, começamos a notá-lo. Podemos até sentir sua energia ou sua consciência auto-orientada. É claro que nosso ego separado também vem envolto de energia e consciência, mas a inteligência do ego sozinho é muito inferior à inteligência universal à nossa disposição. O mesmo é verdade para a energia.

Esses dois elementos—consciência e energia—não são aspectos separados do Eu Real. Eles são um só. Mas alguns de nós têm a tendência em ser mais receptivos à consciência, enquanto outros são mais receptivos à energia. No entanto, ambos são parte da experiência de autorrealização.

Uma das características fundamentais do nosso Eu Real—como ele se expressa através da consciência e da energia—é a espontaneidade. Portanto, não é possível ele se revelar através de um processo laborioso ou de um estado limitado de concentração. E ele sempre se apresenta indiretamente como o subproduto de um esforço. Em resumo: ele aparece quando menos se espera.

À medida que avançamos em nosso caminho espiritual, nosso trabalho é ir fundo e reunir toda a coragem e força que pudermos encontrar para superar nossa própria resistência de nos defrontarmos na verdade. Faremos isso ao admitirmos nossas limitações, ao assumirmos nossos problemas e ao trabalharmos nossas ilusões. E não vamos nos iludir, fazer isso exigirá uma quantidade significante de esforço.

Mas com o nariz pressionado na pedra de amolar, por assim dizer, também não devemos perder de vista o nosso objetivo: ver a verdade sobre nós mesmos. Precisamos ver as ilusões específicas do passado e desmontar nossas barreiras para sermos construtivos - para que possamos deixar de ser tão destrutivos. Não devemos voltar nossos olhos, entretanto, para a própria autorrealização e alguma promessa teórica de nos sentirmos bem. Pois se forçarmos arduamente nossa busca para encontrar nosso Eu Real, ela não virá. Não pode. Só pode acontecer indiretamente, embora nosso Eu Real e toda a sua deliciosa bondade contenha tudo o que poderíamos desejar.

O que realmente está acontecendo por trás desse medo que todos temos de abandonar nosso ego? É o mal-entendido que desistir do nosso ego é desistir da existência.

O que realmente está acontecendo por trás desse medo que todos temos de abandonar nosso ego? É o mal-entendido que desistir do nosso ego é desistir da existência.

Como o medo nos desvia

Cada passo que damos em direção à verdade é um passo em direção à liberdade. Sendo assim, se temos um desejo sincero de ser construtivos e de participar do processo criativo da vida, este é o caminho que devemos seguir. O que nos atrapalha é nosso medo do desconhecido e nossa relutância em nos desprendermos. E quanto menos abertos estivermos para enxergar e conhecer a verdade, menor será a possibilidade de experienciar nosso Eu Real espontaneamente.

Vamos voltar um passo. Como poderia ser o aparecimento deste princípio universal de vida? Podemos, de repente, receber sabedoria para resolver um problema pessoal, que ainda não havíamos pensado. Ou talvez, experienciaremos a vida de uma maneira nova e vibrante que não conhecíamos antes, adicionando sabor ao que estamos fazendo e vendo.

Isso não é um truque. O Eu Real está sempre seguro e sempre oferece uma esperança verdadeira de que não vamos nos decepcionar. Não há razão para temer esse novo jeito de experienciar a vida, e também não é algo que podemos empurrar, forçar ou manipular. Acontecerá por si só, exatamente no mesmo grau em que não sentirmos mais medo dos processos involuntários.

A humanidade se encontra agora em uma batalha entre desejar muito os frutos do Eu Real e seus processos involuntários e, ao mesmo tempo, temê-los e lutar contra eles. Estar preso nesse conflito terrível é muito trágico. A única maneira de resolver isso é nos libertando do nosso medo. E tudo na vida está nos movendo em direção a essa resolução.

Nosso trabalho começa por encontrar e entender o que está por trás das nossas dificuldades pessoais. Quais são as ideias falsas que temos e quais foram as experiências na infância que as causaram? Devemos ver e aceitar o que é real em nós, agora mesmo, bem como nos outros e na vida. A honestidade será o melhor fundamento, pois iluminará as muitas maneiras, sutis e não tão sutis, com que esperamos enganar a vida.

Precisamos encarar e reconstruir nossos defeitos de caráter. Fazemos isso quando os observamos, e não quando entramos em desespero ao vê-los, negando que nunca fizemos nada de errado. Reconhecer totalmente nossas falhas é um jeito infinitamente mais efetivo de removê-las do que qualquer outro método. E note, não é uma questão de removê-las para que, então, algo de bom possa acontecer. É realmente uma questão de sermos capazes de silenciosamente nos observarmos no defeito. Nesse momento, perceberemos o conflito existencial entre nosso ego e nosso Eu Real.

Nosso Eu Real, que se manifesta espontaneamente, não tem relação alguma com um conceito religioso ou com um Deus de cabelos brancos que vive fora de nós. Também não tem relação com uma vida celestial além dessa vida terrena. Essas são interpretações equivocadas que surgiram porque sentimos nosso Eu Real—a consciência universal ou princípio de vida—e buscamos uma explicação no nível do ego. Pois, enquanto o ego ainda está em conflito com o princípio criativo de vida, interpretações erradas estão fadadas a ocorrer. Consequentemente, essas falsas descrições nos alienam ainda mais do nosso Eu Real imediato e, assim, não o sentimos em nossa vida prática diária.

Portanto, podemos ter uma percepção profunda de que há mais possibilidades disponíveis para nós, mas achamos que não conseguimos alcançá-las. Pior ainda, em nossa alienação, tornamo-nos amedrontados do nosso Eu Real. E com o passar do tempo, as pessoas criaram teorias vagas que tentam preencher o espaço entre seus desejos e seus medos. Se olharmos para qualquer organização religiosa que retire Deus do Eu—do self—e da experiência diária da vida, descobriremos que existe um consenso que divide a natureza humana entre ser físico e ser espiritual. Desse modo, a realização plena é retirada do agora e é empurrada para a vida após a morte. Qualquer visão como essa, no entanto, nada mais é do que um consenso infeliz entre o que sentimos que poderia existir e o que tememos.

Esse medo vai além dos medos individuais que surgem a partir das nossas crenças errôneas e dos nossos traumas pessoais de infância. Então, o que está realmente acontecendo por trás desse medo generalizado que todos temos de nos desapegar do nosso ego e, então, permitir que nosso Eu Real se revele e nos conduza adiante? É a incompreensão de que abdicar do nosso ego é abdicar da existência.

Não renunciamos à nossa individualidade quando nos conectamos com nosso Eu Real. Na verdade, então nos tornamos mais quem realmente somos.

Não renunciamos à nossa individualidade quando nos conectamos com nosso Eu Real. Na verdade, então nos tornamos mais quem realmente somos.

A ilusão da separação

Para entendermos melhor a situação, vamos observar como o ego se formou a partir do Eu Real. Para começar, a criação de indivíduos vem da própria natureza do Eu Real, ou força criativa de vida. Afinal, a vida está sempre em movimento e expansão, ampliando-se e contraindo-se, encontrando novas maneiras de se estender a um novo terreno. A criatividade tem que criar. Portanto, a vida está sempre descobrindo novas possibilidades de como pode experienciar a si mesma.

Mas depois de um tempo, após uma consciência individual ter se afastado cada vez mais da sua fonte de origem, ela “esquece” sua conexão e aparenta ser uma entidade totalmente separada. Eventualmente, ela perde o contato com as leis que a governam e os princípios criativos que a animam. É assim que passamos a ter uma existência individual, que agora é associada somente em ser separada. Nesse caso, abandonar o ego pode parecer assustadoramente como uma aniquilação dessa pessoa única.

É aqui que nos encontramos hoje. Estamos sob a ilusão que “eu” somente posso ser encontrado em minha existência “separada”. Essa é exatamente a ilusão que tem causando a morte humana. Pois a morte, como a conhecemos, nada mais é do que a extensão dessa ilusão até a sua final—e realmente absurda—conclusão.

Esta não é uma teoria para considerarmos mentalmente. Não, é isso que podemos perceber, aqui e agora, olhando para nós mesmos na verdade. Quando nos livrarmos das ilusões que temos sobre nós mesmos, veremos que não renunciamos a nossa individualidade quando nos conectamos com nosso Eu Real, permitindo que a consciência universal assuma e se integre às funções de nosso ego. Na verdade, então nos tornamos mais quem realmente somos.

Quando vivemos a partir do nosso Eu Real, sentimos uma renovação de energia e, paradoxalmente, descobrimos que quanto mais nos doamos, mais energizados nos sentimos. Pois essa é a lei do princípio universal de vida. Ao contrário, quando agimos a partir do nosso ego e separados do nosso Eu Real, estamos presos em um lugar de dualidade. Nesse nível, parece totalmente lógico que quanto mais doarmos, menos teremos e mais esgotados ficaremos. Isso decorre da ilusão de que nosso ego exterior é tudo que existe para nós, o que está enraizado em nosso medo de se libertar das defesas rígidas do nosso ego.

Para esclarecer, não é apenas energia que encontramos. Quando acessamos esses poderes universais, também sentiremos um fluxo de inspirações e ideias provenientes de uma inteligência que é muito mais vasta do que qualquer coisa que conhecemos antes. Nosso intelecto exterior não está ao nível dessa sabedoria interior. Este é o nosso “melhor self”. E embora possa parecer estranho para nós no início, não é. É que esses canais estão obstruídos há muito tempo. Isso se deve em partes à nossa falta de conhecimento de que eles existiam, junto com todas as pequenas mentiras pessoais que temos contado para nós mesmos e aos outros.

Essa inteligência mais vasta apresentar-se-á na forma de orientação, intuição e inspiração. Isso acontecerá não como um sentimento vago, mas através de palavras concisas e entendimentos úteis, os quais podemos compreender e aplicar prontamente em nossa vida diária.

Ao descobrir essa nova vida interior, reconciliaremos os aparentes opostos de ser um indivíduo e ser parte integrante do todo. Ser uma pessoa única e com tudo o que existe não parecerá mais opostos, mas fatos interdependentes. Esta é a primeira de muitas alternativas aparentemente mutuamente exclusivas que nos causam tanta dor de cabeça e que serão resolvidas quando o ego se conectar com o Eu Real.

A vida está em constante movimento, e é o desejo de se segurar que torna a vida assustadora. Se deixarmos ir, descobriremos que o movimento é o que é seguro.

A vida está em constante movimento, e é o desejo de se segurar que torna a vida assustadora. Se deixarmos ir, descobriremos que o movimento é o que é seguro.

Encontrando segurança real

O abandono do ego não deve ser mal interpretado para significar que ele é desconsiderado em sua importância ou deixado de lado. E, certamente, não deve ser aniquilado. Pois o ego se formou como uma parte separada do Eu Real—o qual é o nosso ser maior, encontrado em nosso interior. Sempre que o ego estiver pronto para se reconectar com sua fonte original, o Eu Real pode ser acessado imediatamente, se assim o desejarmos. Isso significa que quando o ego se tornar forte o suficiente para se arriscar a confiar nas faculdades do Eu Real, que são maiores que o ego—especialmente pela capacidade de consciência muito limitada dele—o ego encontrará uma recompensa na forma de uma nova segurança que nunca havíamos sonhado antes.

O que nos impede de dar este passo é o medo de sermos destruídos. Temos medo de que vamos cair no vazio e desaparecer. E para ajudar a acalmar esse medo, seguramo-nos e nos prendemos nas partes petrificadas e imóveis da nossa psique. Pois, já que essa parte não está se movendo, deve ser um lugar seguro para nos ancorar, certo? Achamos que, o que está se movendo deve ser perigoso. Embora, na verdade, é o oposto. A vida está em constante movimento e é o desejo de se prender que faz a vida assustadora.

Se um dia nos soltarmos, descobriremos que o movimento é o que é seguro. Quando o movimento nos levar—quando a vida nos levar—teremos encontrado a única e verdadeira segurança que existe. Qualquer outra falsa segurança—como se agarrar em qualquer para salvar a vida—é pura ilusão, e não gera nada além de mais medo.

Se pudéssemos espiar por trás da cortina dos nossos próprios pensamentos, poderíamos descobrir uma voz que diz: “Se eu não me segurar em mim mesmo, eu não estou seguro”. Se começarmos a notar um sentimento como esse, estaremos agora com uma chave importante nas mãos. Pois agora podemos considerar a possibilidade de que isso seja um erro. Na verdade, não temos nada a temer. Não vamos ser aniquilados ou destruídos. Seremos somente levados e carregados.

O mundo em que vivemos é criado por nosso estado atual de consciência, e não ao contrário. Acredite ou não, isso também é verdade para as leis físicas. Mas estamos todos tão acostumados a colocar o efeito antes e a causa depois. Isso vem do nosso estado dualista de pensamento, no qual não somos capazes de ver a imagem por inteira e tendemos a pensar de uma maneira restrita.

Mas que a verdade seja dita, não fomos designados aleatoriamente para viver aqui. Em vez disso, esta esfera dualista é uma expressão de onde a humanidade está em seu desenvolvimento. Tudo o que está contido aqui é uma representação do que está dentro de nós. Por exemplo, temos a lei física da gravidade no planeta Terra. Essa lei é compatível com nossa consciência dualista. Ela expressa, no nível físico, nossa reação e preocupação em cair no vazio e sermos destruídos quando desconsideramos nosso ego como a única forma da nossa existência. Dessa forma, a lei da gravidade está em um perfeito sincronismo com nossas condições interiores.

Há outras esferas de consciência que contêm leis físicas diferentes, pois a consciência geral daqueles indivíduos transcenderam a dualidade que existe aqui. Nossa realidade não é a última e a única que existe. Podemos refletir sobre isso como um jeito de ampliar nossos horizontes em como pensamos sobre os limites da realidade. Ao sentir que uma experiência diferente no interior é real, nosso medo pode diminuir e nossa ilusão do ego ter uma existência isolada também pode diminuir.

Quando essa vergonha aparece, começamos a fingir. Neste caso, vamos fingir coisas que realmente sentimos.

Quando essa vergonha aparece, começamos a fingir. Neste caso, vamos fingir coisas que realmente sentimos.

Trabalhando através de camadas de consciência

Como aplicamos essa informação em nossa busca para encontrar nosso Eu Real? Considere que uma busca como essa levará, inevitavelmente, à tarefa de organizar as várias camadas da nossa consciência. Nosso trabalho envolverá fazer os materiais que antes estavam inconscientes em conscientes, assim, podemos reorientar nossas falhas e pensamentos errados. E quanto mais fizermos isso, mais perto estaremos do nosso Eu Real.

À medida que nosso Eu Real se tornar livre para se revelar, seremos cada vez mais libertos de nossos medos, vergonhas e preconceitos. E isso nos torna mais disponíveis para nosso Eu Real. Qualquer pessoa que tenha feito isso pode testemunhar esta verdade: quanto mais coragem reunimos para olhar com bravura a verdade do que está dentro de nós, mais fácil se tornará para se conectar com essa vida vasta, segura e maravilhosa em nosso interior.

E quanto mais nos conectarmos com a parte de nós mesmos que remove qualquer incerteza e todo conflito, mais seguros nos sentiremos em nossa capacidade de atuar no mundo. A vida prática diária fica mais fácil, não por mágica, mas pelo aumento da nossa capacidade de cooperar. E o melhor de tudo, abrimo-nos para nossa capacidade de sentir muito prazer, assim como somos destinados a sentir. Se nos tornamos desconectados desse modo de viver, é claro que vamos ansiar por ele!

Se dividirmos a personalidade humana, existem três níveis fundamentais. Primeiro, há o nosso Eu Superior, o qual contém o maior potencial de cada pessoa. Essa é a força universal de vida que se encontra na essência de cada ser humano. Cobrindo o Eu Superior está o Eu Inferior, o qual é composto por todas as nossas falhas e ilusões, nossa destrutividade, negatividade e crueldade. Acobertando tudo isso, há um terceiro componente que podemos chamar de nossa Máscara, ou nossa Autoimagem Idealizada. Essa camada é baseada em nossa pretensão de ser o que desejamos ser, ou o que sentimos que devemos ser, para que todos gostem de nós e nos aprovem.

Há muitos aspectos para explorar em relação a essas partes distintas do self, mas há um fenômeno em particular que merece ser mencionado sobre esse tópico do ego e o Eu Real. Por mais estranho que possa parecer, muitas vezes temos vergonha de nosso Eu Superior—do melhor que há em nós. Particularmente, para aquelas pessoas que são do Tipo Vontade, parece vergonhoso permitir que os outros vejam nossos melhores, mais amorosos e generosos impulsos. De alguma forma, achamos mais fácil e não tão constrangedor mostrar nosso pior lado.

Vamos explorar isso um pouco mais a fundo, pois está conectado com nosso medo de expor nosso Eu Real. Retornando para o Tipo Vontade, essa personalidade pode sentir vergonha principalmente por ser amorosa ou generosa. Eles acreditam que se cederem às exigencias da sociedade para serem bons, perderão o senso de si mesmos como um indivíduo. Eles temem se submeter à opinião dos outros, o que pode torná-los, de alguma forma, dependentes de outra pessoa. E por isso, sentem-se envergonhados de qualquer impulso que possam ter para agradar alguém. Consequentemente, uma pessoa do Tipo Vontade pode se sentir mais “ela mesma” quando está sendo maldosa ou agressiva.

Na verdade, muitos de nós temos uma reação semelhante ao nosso Eu Real e aos nossos sentimentos verdadeiros de gentileza, de bondade e de generosidade. Essa vergonha estranha se apresenta como constrangimento e um sentimento de estarmos expostos por sermos quem e como realmente somos. Essa não é a vergonha que sentimos por sermos desonestos ou destrutivos, ou por cedermos às exigências de alguém. Essa é uma vergonha em um nível totalmente diferente, e é de uma qualidade muito diferente. É uma sensação de que o que somos se sente vergonhosamente despido, independente do que pensamos ou sentimos, ou como nos comportamos.

É importante entender isso, pois explica a razão pela qual criamos todas essas camadas artificiais. Geralmente pensamos nessas máscaras, ou defesas, à medida que surgem das nossas ideias erradas sobre a vida. Nesse caso, quando começamos a revelar nosso núcleo central nu e nosso medo do perigo diminuir, começamos, então, a nos sentir mais envergonhados. Os alarmes de perigo disparam quando nosso ego se entrega aos processos involuntários do Eu Real. A vergonha, por outro lado, vem à tona intensamente quando começamos a ser quem realmente somos no momento.

Quando essa vergonha aparece, começamos a fingir. Essa pretensão em particular é diferente da nossa máscara “normal”—máscara de poder, máscara de amor ou máscara de serenidade—que tenta encobrir nossa destrutividade, crueldade e falta geral de integridade. Esse fingimento diferente é, na verdade, mais profundo e mais sutil. Nesse caso, iremos fingir coisas que realmente sentimos.

Então, por exemplo, em um caso em que já sentimos amor, podemos esconder nosso verdadeiro amor porque ele nos faz sentir nus e, em vez disso, criamos um amor falso. Ou podemos sentir raiva de verdade, como estamos hoje, mas como essa raiva parece tão nua, construímos uma raiva falsa. O mesmo acontece com a tristeza. Podemos nos sentir mortificados por reconhecer nossa própria tristeza, até para nós mesmos, então criamos uma falsa tristeza, a qual podemos facilmente mostrar aos outros. Talvez estejamos realmente sentindo prazer, mas como é humilhante expor isso, criamos um prazer falso. Também iremos fingir sentimentos como confusão e dúvida. Seja qual for a nossa verdadeira emoção, encontraremos uma maneira de intensificá-la e dramatizá-la, fingindo-a efetivamente.

Ao andarmos por aí usando essa roupa de proteção feita de sentimentos falsos, escondemos nosso Eu Real, e somos os únicos—geralmente no fundo do nosso inconsciente—que sabem que estamos fazendo isso. Essa nossa “roupa de proteção” também atua como uma anestesia, adormecendo a vibração da vida. Pois, o que fizemos foi construir uma barreira entre nós e nosso Eu Real. Isso efetivamente nos separa da realidade do nosso próprio ser interior, que não podemos suportar e, assim, sentimo-nos forçados a imitá-lo. Estamos falsificando nossa própria existência.

Enfim, como o fluxo de vida em movimento parece muito perigoso para nós, agimos de maneiras que afetam nossa dignidade pessoal. Que trágica ilusão! Pois a verdade nua e crua é esta: nós só poderemos estar verdadeiramente seguros quando nos reunirmos com a fonte de tudo o que a vida é, e então encontraremos a verdadeira dignidade. Pois, dessa forma, superaremos a vergonha que sentimos de sermos reais, embora seja isso que está se apresentando neste momento.

Frequentemente, preferimos ser aniquilados ao invés de suportar essa sensação estranha de vergonha que surge ao expor nosso verdadeiro ser. Amigos, é extremamente importante olhar para isso e não afastá-la quando surgir. Isso não é uma coisa trivial e encará-la diretamente nos levará longe no caminho. Ela contém a chave para destravar nossa dormência, a qual gera desespero e frustração. E essa dormência contribui para a autoalienação e para sentir uma maneira particular de desconexão desagradável.

É difícil identificar essa falsidade sutil, pois não é fácil identificar o verdadeiro sentimento do sentimento falso. Não seremos capazes de apontá-lo com meras palavras. Em vez disso, devemos notar como o sabor e a qualidade das nossas experiências não estão bons. E, muitas vezes, temos feito isso por tanto tempo que agora já se tornou natural. Então, precisamos fazer alguns desapegos muito sensíveis, enquanto nos permitirmos ser e sentir, e observar de perto o que descobrirmos.

Agora não é hora de se apressar. Teremos de diminuir o ritmo e ficar perfeitamente cientes do que acontece quando expomos nossos sentimentos nus. Poderemos notar também que nossas imitações sutis produzem sentimentos opostos, somando-se aos idênticos. E nossa intensificação das coisas faz o falso parecer real.

Portanto, se nosso objetivo é nos tornarmos mais autênticos, este é o caminho que teremos que percorrer para chegar lá. Não podemos chegar lá por outro caminho. Teremos que fazer as pazes com a vergonha de nos sentirmos nus. E, então, quando nos conectarmos com nosso Eu Real momentâneo, não será “perfeito”. Muito longe disso. Todos nós temos trabalho a fazer. No entanto, o que somos agora é perfeito na forma como contém todas as sementes de que precisamos para viver uma vida profundamente vibrante.

Nós já somos essa força universal de vida, o qual contém tudo o que é melhor possível. E o que somos neste momento não é vergonhoso porque temos algumas falhas. Do mesmo modo, nosso Eu Real nu não é algo de que se envergonhar. Quando reunimos coragem para nos tornarmos nosso Eu Real, podemos começar a abordar a vida de uma maneira totalmente nova, deixando todo o nosso fingimento dissipar. Isso inclui as máscaras, fáceis de serem identificadas, que todos nós andamos por aí usando—bom, fácil de enxergar nos outros e normalmente mais difíceis de identificar em nós mesmos—bem como essas capas mais sutis.

Mas elas são exatamente o que estão entre nosso ego e nosso Eu Real. Elas criam uma barreira que bloqueia a força de vida e nos afasta do nosso melhor self. Elas criam um abismo que parece perigoso de atravessar. Elas são a causa dos nossos sentimentos ilusórios de medo e vergonha. Essa vergonha se origina de alguns dos nossos medos e leva à criação de outros. Essa vergonha é a base responsável, bem como os medos também são, por nossas ideias erradas sobre a vida e nossas divisões. Eles todos são fios no mesmo novelo de ilusão.

Podemos ver o simbolismo da vergonha pela nossa nudez refletido na história de Adão e Eva. Estar nu, na realidade, é estar no paraíso. Quando paramos de negar nossa nudez, podemos começar a viver uma vida nova e bem-aventurada. E isso pode começar aqui mesmo, agora, e não em outra vida no além. Claro, não chegaremos aqui em um dia. Teremos de nos acostumar com essa maneira de caminhar no mundo, nus, como modo de dizer, e livres de vergonha.

À medida que seguirmos o nosso caminho espiritual no mundo exterior, também teremos que percorrer outro caminho em nosso interior. Um caminho dentro de um caminho, digamos assim. Essa é a estrada que devemos percorrer para nos tornar conscientes do nosso hábito de encobrir a nossa nudez interior. E esse não será um hábito fácil de quebrar! Mas assim que começarmos a prestar atenção em tudo isso e invocar os poderes disponíveis a nós—sempre e sempre, precisamos pedir por ajuda e orientação—começaremos a perceber nossa vergonha e nosso esconderijo.

Pouco a pouco, vamos aprender a tirar nossa capa e sair da nossa concha de proteção. Cada dia que fizermos isso, nos tornaremos mais reais. Não melhores. Não piores. E não diferentes de como somos. Sem os sentimentos falsos, seremos apenas mais reais, aventurando-nos pelo mundo como estamos neste momento.

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Podemos começar considerando a possibilidade de que nossos sentimentos não são verdadeiros. Não precisamos ter medo dessa ideia, mas muitas pessoas têm pavor dessa noção de que seus sentimentos podem ser falsos. Temos medo de que não tenhamos sentimentos se nossos sentimentos não forem reais. Tememos nosso próprio vazio. E ficamos devastados por esse medo. Esse medo nos estimulará a continuar fingindo.

Se continuarmos retirando as camadas, eventualmente chegaremos a um ponto em que diremos: “Não. Eu não quero sentir.” Isso pode ter sido gerado pelo o que estamos discutindo aqui ou por traumas de infância. Não importa. A questão é, sempre deve haver uma decisão interna de não sentir. Frequentemente, perdemos nossa conexão com essa resolução, o que significa que ela já se transferiu para nosso inconsciente. E, por consequência, nosso eu consciente fica impotente quanto ao resultado, ou seja, não temos sentimentos.

O que sentimos é o terror de não sermos capazes de sentir, e esse terror é muito pior quando nosso consciente não sabe o que está acontecendo em nosso inconsciente, onde tememos os sentimentos. Ajuda-nos compreender que ninguém está realmente sem sentimentos e que sentimentos não podem morrer permanentemente. A vida e os sentimentos são um, então, se há vida, há sentimentos, mesmo que tenham sido silenciados. Agora, ao saber disso, podemos perguntar interiormente: “Em qual parte eu tomei a decisão de não sentir?” Percebeu o medo de ter sentimentos aparecer? Agora estamos no caminho certo.

O próximo passo é reativar nossos sentimentos utilizando nossa mente racional—aqui é onde o ego entra e pede ajuda ao nosso Eu Superior—realizando uma avaliação racional da circunstância. Esse é o trabalho. O que aparecer não nos matará, como acreditam as partes de nós que ainda vivem na consciência infantil. Mas não sentir... isso seria como parar de viver.

“Sejam abençoados, cada um de vocês. Que seus esforços sejam bem-sucedidos para se tornarem reais, para encontrar a coragem de ser nuamente real, sem nenhuma falsa cobertura. Se vocês realmente quiserem, vocês só têm a vencer. Aqueles que não se moverem, não crescerem e se não se libertarem, não querem ser bem-sucedidos—e é importante que saibam isso—e encontrar em vocês a voz interior que se recusa partir. Que todas as sua camadas falsas caiam, pois isso é o que vocês realmente querem e decidem. Vocês, então, descobrirão a glória de viver. Estejam em paz, estejam em Deus!”

– Guia Pathwork

After the Ego: Insights from the Pathwork® Guide on How to Wake Up

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